Um impressionante silêncio tomou conta das ruas de Caracas, capital da Venezuela, na segunda-feira 10, quando aconteceu o “paro cívico” – eufemismo para locaute, uma greve de patrões contra o governo do presidente Hugo Chávez, mas que contou com apoio dos trabalhadores. Hospitais só atendiam casos de emergência. Escolas, comércio, Bolsa de Valores, tudo ficou fechado. Até as partidas de beisebol, que Chávez tanto gosta, deixaram de ser jogadas. Segundo o empresariado, quase 90% dos 24 milhões de venezuelanos aderiram às 12 horas do protesto.

O “paro” foi convocado pela poderosa Federação de Câmaras da Venezuela (Fedecâmaras), entidade que abriga cerca de três mil empresas, mas também contou com a adesão do principal sindicato do país, a Confederação Trabalhista da Venezuela (CTV), que representa cerca de 80% dos dez milhões de trabalhadores venezuelanos. O estilo de Chávez, admirador confesso do ditador cubano Fidel Castro, conseguiu soldar essa insólita aliança do capital com o trabalho num país onde 70% da população vive abaixo da linha de pobreza. Os empresários acusam Chávez, um coronel de passado golpista, de tentar impor autoritariamente uma legislação que restringe a propriedade privada e os investimentos estrangeiros. Já os trabalhadores crêem que o governo quer enquadrar os sindicatos na linha oficial, quebrando-lhes a autonomia.

As leis mais polêmicas são: a Lei da Terra, que determina a expropriação de terras improdutivas e limita a propriedade rural em cinco mil hectares; a Lei da Pesca, que proíbe a pesca predatória; e a Lei de Hidrocarbonetos, que prevê restrições aos investimentos externos no petróleo – responsável por 80% das exportações da Venezuela –, fixando em no máximo 49% a participação de capital estrangeiro no setor.

Chávez, que assumiu em 1999, provocou um terremoto político na Venezuela ao convocar uma Constituinte e derrubar as instituições políticas a golpes de plebiscito. Seus índices de aprovação, que já estiveram em 80%, caíram muito, mas ainda estão num patamar razoável – 45% da população. E essa crise, apesar das aparências, é uma crise política, não econômica. Nestes dois anos, o crescimento do PIB deixou de ser negativo, a inflação caiu e a taxa de juros foi cortada pela metade. O problema é que Chávez parece fazer política como se ainda estivesse dando ordens num quartel.