Descontentes com a versão final do projeto Nova Luz, apresentada na quinta-feira passada pela Prefeitura de São Paulo, comerciantes e moradores dos bairros da Luz e de Santa Ifigênia, no centro da capital paulista, estão preparando a própria proposta de revitalização para a área. O plano popular pretende começar por um ponto que não aparece na proposta urbanística do governo municipal: a recuperação de usuários de drogas.
 
Até o fim desta semana, ex-moradores da cracolândia que passam por tratamento há pelo menos um ano devem começar a recolher papelão, óleo de cozinha e lixo eletrônico na região da Santa Ifigênia. O material será separado por eles em um galpão no bairro e, depois, vendido a empresas que fazem reciclagem, o que vai garantir a viabilidade econômica do programa.
 
A oportunidade de passar por tratamento e conseguir um emprego servirá para chamar a atenção dos dependentes, segundo o pastor Sílvio Pinheiro, de 44 anos, fundador da ONG Valentes de Davi, que trabalha com o tratamento de dependentes químicos na cracolândia há cerca de um ano. "É uma proposta irrecusável: se você chega para o sujeito e diz que ele vai se tratar e ainda sair empregado, a resistência será menor."
 
A Secretaria Municipal de Saúde informou que "está aberta a receber apoio e sugestões da sociedade civil" em projetos como o de recuperação de dependentes de drogas na região da Luz – um problema que "aflige diversas regiões do País", segundo a nota. Em relação ao tratamento de dependentes químicos, a administração diz que desenvolve, há mais de dois anos, "a criação de uma rede estruturada e organizada de atendimento" que ofereça condições para tratar as especificidades de cada caso. Nos últimos dois anos, ainda segundo a prefeitura, 4 mil pessoas que viviam nas ruas foram encaminhadas para atendimento médico em toda a cidade.
 
Projeto
 
Além de buscar solução para o problema dos dependentes químicos, comerciantes e moradores que estão dentro do perímetro do projeto Nova Luz pretendem pressionar os órgãos de defesa do patrimônio histórico e cultural para garantir o tombamento do bairro, considerado o primeiro da capital paulista. Qualquer intervenção seria barrada se um desses órgãos decidisse estudar o caso.
 
Outra frente de moradores pretende conseguir provar na Justiça que a lei de concessão urbanística, na qual está baseado o projeto Nova Luz, é inconstitucional, pois transfere para a iniciativa privada um direito que só a Prefeitura tem – o de desapropriar determinados terrenos para fazer obras. O grupo também questiona a necessidade de se demolir quase 23% da área construída do bairro.