Yasser Arafat está fora do cenário. Pelo menos para o governo israelense, que anunciou na quinta-feira 13 o fim das relações com o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP). Para Israel, ele tornou-se uma figura “irrelevante”. O líder palestino é acusado de ser “diretamente responsável pela série de ataques terroristas”. O anúncio foi feito um dia depois de um terrorista palestino ter atacado um ônibus, matando dez civis israelenses e ferindo mais de 30 em Emanuel, uma colônia de judeus ultra-ortodoxos, a 40 quilômetros de Jerusalém. Quase simultaneamente, dois homens-bomba feriram mais três israelenses na Faixa de Gaza. Os ataques foram assumidos pelo grupo radical islâmico Hamas e pela Brigada Mártires de al-Aqsa, ligada à Fatah, organização política de Arafat. Pela primeira vez, o presidente da ANP ordenou o fechamento dos escritórios do Hamas, uma velha exigência do governo israelense. Mas na sexta-feira 14, Arafat suspendeu as operações de repressão às organizações extremistas depois da série de ataques contra os palestinos.

O gabinete do primeiro-ministro, Ariel Sharon, planejou uma forte retaliação aos atentados. Israel não declarou guerra à ANP, mas deixou claro que o processo de paz está hoje muito longe do simbólico aperto de mão entre Yitzhak Rabin e Arafat quando assinaram o acordo de Oslo, em 1993. Caças F-16 lançaram mísseis contra um prédio de segurança da ANP em Nablus, na Faixa de Gaza. O Exército israelense usou escavadeiras para destruir o centro de estação de rádio e tevê da ANP, derrubando também a antena de retransmissão. Soldados israelenses caçavam o líder do Fatah, Marwan Barghouti, e uma mesquita onde estava o líder espiritual do Hamas, Ahmed Yassim (que até a semana passada estava em prisão domiciliar por ordem de Arafat), foi bombardeada. Tanques entraram nas cidades palestinas controladas pela ANP em busca de líderes extremistas.

Tanto os Estados Unidos, fiéis aliados de Israel, quanto os países da União Européia, vêem com maus olhos a inexistência de um interlocutor dos palestinos para negociar com Israel. O Departamento de Estado americano condenou veementemente os ataques terroristas, mas declarou que ainda considera Arafat como o “líder dos palestinos”. Os resultados práticos em isolá-lo ainda são incertos, assim como o destino dos negociadores pela paz, como é o caso do enviado dos EUA à região, Anthony Zinni, que propôs aos dois lados uma trégua de 48 horas e obteve como resposta os ataques sanguinários. Por enquanto, a ordem de Israel é capturar a qualquer preço os membros das organizações extremistas, numa operação chamada de “limpeza antiterrorista”. Desde os atentados dos dias 1º e 2 de dezembro, quando morreram 26 israelenses, cerca de 180 palestinos já foram parar atrás das grades.

Sucessor –

O governo israelense também proibiu Arafat de deixar Ramalá e avisou que “Israel não o atacará, mas ele deve ficar onde está”. Ainda não está claro se o corte das relações com Arafat se estenderá a outros líderes palestinos. Segundo a Jordânia, os israelenses já especulam um novo líder para substituí-lo. Em entrevista ao jornal árabe Asharq Al Awasat, o rei Abdulá II afirmou que Tel-Aviv acredita que, “seja qual for o sucessor de Arafat, será melhor do que ele”. Tanto o Ocidente quanto o Oriente se inquietam com a possibilidade de uma guerra em Israel. O enviado da ONU ao Oriente Médio, Terje Roed, afirmou que israelenses e palestinos “estão mais próximos do que nunca de um confronto militar total. E, se isso ocorrer, no melhor dos casos serão enfraquecidas todas as instituições da ANP, que permanecerá com pouca autoridade de liderança, ou, na pior das hipóteses, a Autoridade Palestina será totalmente desmantelada e o caos na região terá implicações mundiais”.