Quando chegaram aos Estados Unidos, em fevereiro de 1964, os Beatles foram filmados dia e noite pelos irmãos Albert e David Maysles. Foi a primeira e última vez que um músico jovem se portou com naturalidade diante de uma câmera. O cineasta Eduardo Coutinho repetiu o feito em O fim e o princípio (Brasil, 2005), em cartaz no Rio de Janeiro e São Paulo, ao visitar sem um roteiro estabelecido a cidade de São João do Rio do Peixe, a 480 quilômetros de João Pessoa, no sertão da Paraíba, onde havia filmado Cabra marcado para morrer (1964-1984). Segundo o produtor-executivo João Moreira Salles, o fato de os entrevistados escolhidos entre as 86 famílias do Sítio Araçás, naquele município, serem idosos e analfabetos, principalmente de televisão, valorizou a palavra como comunicação. Daí a riqueza dos depoimentos, que mostram um talento oratório, uma qualidade de imaginário há muito perdida pelo “homo urbanus”. O encontro com a professorinha Rosilene Batista de Sousa, a Rosa, que mora em um sítio sem telefone, nunca foi ao cinema, mas fazia um programa de rádio, foi fundamental. A jovem serviu como ponte entre a equipe e os moradores e, não raro, aparou arestas, eliminou desconfianças.