O presidente Lula em seu discurso de posse botou o dedo em
antigas e conhecidas feridas do caráter nacional: impunidade, sonegação, desperdício e, a mais recorrente de todas, corrupção.
“O combate à corrupção e a defesa da ética no trato da coisa pública serão objetivos centrais e permanentes do meu governo”, anunciou
com pompa. Duas reportagens desta semana de ISTOÉ provam que
o presidente ainda vai ter muitas dores de cabeça com o tema. Uma
expõe a falcatrua gorda, envolvendo altos funcionários do governo
e interesses de grandes empresas. A outra mostra o varejo da imoralidade, aquela que atinge a pequena prefeitura do interior
e envolve quantias que podem ser consideradas modestas.

Depois de 40 dias de investigações, Amaury Ribeiro Jr. e Sônia
Filgueiras desvendaram um esquema que se imaginava sepultado.
Tendo como base a Inspetoria de Contribuintes de Grande Porte, funcionários da Secretaria de Fazenda do Rio de Janeiro e da
Receita Federal no Estado mandaram para a Suíça US$ 33,4 milhões, dinheiro que se tivesse entrado nos cofres públicos ajudaria a
aplacar a ira santa da governadora Rosinha Garotinho contra o governo federal. Antes mesmo de a revista chegar às bancas, foi demitido
o presidente da Companhia de Desenvolvimento Industrial (Codin), Rodrigo Silveirinha Corrêa, um dos principais nomes do esquema.

A outra enxaqueca de Lula acontece em seu quintal. De acordo
com o farto material apurado por Weiller Diniz, o novo ministro dos Transportes, o deputado do PL mineiro Anderson Adauto, vai ter
de dar muitas explicações ao chefe petista. Ele e o senador Aelton
José de Freitas (PL-MG), suplente que herdou o lugar do vice José Alencar, estão envolvidos, segundo detalhada documentação da
CPI da Câmara Municipal de Iturama, com fantasmas e laranjas. Maracutaias conhecidas que hibernavam na memória do brasileiro.
“É preciso enfrentar com determinação e derrotar a verdadeira cultura
da impunidade que prevalece em certos setores da vida pública”,
ensinou o presidente em seu histórico discurso do dia primeiro de
janeiro. O rastro de provas que chamusca o ministro Adauto vai
tirar o sono de muita gente no primeiro escalão do governo Lula.