Para muita gente, a maratona em busca da melhor escola para o filho está só começando. O normal é conferir programas educacionais e atividades extracurriculares. Mas entre os pontos a considerar na hora de escolher o colégio, há um que começa a chamar a atenção dos pais: a alimentação. Várias escolas estão oferecendo à criançada refeições mais saudáveis e nutritivas. Algumas exibem, inclusive, um selo de qualidade conferido pela Fundação do Coração (Funcor), departamento da Sociedade Brasileira de Cardiologia. O certificado atesta o equilíbrio do cardápio. “O selo é dado ao que é benéfico ao coração. E as escolas estão contribuindo para conscientizar as crianças sobre a importância de se ter bons hábitos alimentares”, explica Max Grinberg, presidente do Comitê do Selo da SBC/Funcor.

O colégio Sidarta, em São Paulo, recebeu o selo em outubro, depois que o cardápio foi modificado para atender às exigências da Funcor. Quem se encarregou das alterações foi a nutricionista Cristiane Nieves, da empresa Medirest, especializada em alimentação escolar e hospitalar. “O cardápio tem valor calórico e nutrientes ideais”, diz Cristiane. No menu, não entram frituras, molhos à base de óleo, embutidos de porco e refrigerantes. Normalmente, são oferecidos carne, acompanhamento e duas opções de salada.

Ensinar como tornar a refeição mais saudável é parte importante do programa. No Sidarta, as crianças semeiam, cultivam e colhem parte dos ingredientes que compõem a dieta. “Elas ganham conhecimento sobre o assunto. A escola não é um simples restaurante”, afirma Cláudia Siqueira, coordenadora do colégio. O pequeno Luiz Carlos Ferreira, seis anos, compreendeu a lição. “Aprendi que é bom comer frutas e legumes. Plantei alface e agora como a salada em casa”, diz.

Outra escola que ostenta o selo da Funcor é o Colégio Sapiens, em São Bernardo, na Grande São Paulo. Preocupados com o aumento de peso de muitos de seus 500 alunos, os educadores implantaram um programa de reeducação alimentar. “Na nossa filosofia, alimentação também é educação”, explica Armando Fantine, diretor da escola. Eles contrataram uma nutricionista, que reformulou o cardápio e também passou a orientar pais, alunos e funcionários. O resultado, fruto de um trabalho de mais de um ano, é surpreendente. Não se vende mais refrigerante, por exemplo. Não é proibido, mas os estudantes deixaram de consumir a bebida. No começo, ela só era vendida às sextas-feiras. Com o tempo, não houve mais interesse. Também não há mais balas e chicletes. Chocolates, só de algumas marcas. E quando a criança vai comprar o doce, se depara com uma funcionária treinada para convencê-la a trocar a guloseima por fruta. Muitas vezes, tem sucesso. Na escola, não há fritura e o cachorro-quente é feito com salsicha de frango. “As crianças estão mais saudáveis”, assegura Fantine. De fato, há casos de alunos que emagreceram e de crianças que aprenderam que comer direito não engorda. “Estava abaixo do peso porque não queria engordar e por isso não comia. Na escola, sei que estou comendo alimentos saudáveis”, afirma Talita Grotti, 13 anos.

Bonecos – No colégio Santo Américo, também em São Paulo, a melhora na qualidade da alimentação conta com um time especial: estudantes de nutrição equipadas com fantoches, apelidadas de Sodekids. Os bonecos chamam a atenção das crianças e as universitárias orientam a montagem do prato. O projeto foi criado pela Sodexho, companhia que faz consultoria nutricional para escolas. “As refeições são elaboradas com base no gosto dos alunos”, observa Susana Haypek, uma das diretoras do colégio. A decisão de adotar um trabalho diferenciado surgiu neste ano. “As crianças queriam terminar o almoço logo para ir brincar. Então, procuramos um modo de fazê-las curtir mais essa hora”, diz Susana.

E como a garotada curte. As Sodekids são sempre solicitadas. Elas falam sobre verduras e frutas e pedem que as crianças experimentem esses alimentos. O trabalho está sendo tão eficaz que as crianças pedem que os pais acrescentem ingredientes mais saudáveis nas refeições em casa. Juliana Figueiroa (nome trocado a pedido da escola), 9 anos, já disse à mãe para fazer grão-de-bico. Desejos como esse, vindos de uma criança, podem soar supreendentes, mas mostram que os pequenos são capazes de aprender a gostar de verdade de uma boa salada de brócolis.