Nesta era de múltiplas engenhocas eletrônicas, quem terá paciência para ler mais um manual de proprietário? O médico Michael Roizen aposta em legiões de interessados. Tanto que escreveu Você: manual do proprietário, um guia prático sobre o corpo humano. Há seis meses, o livro é best-seller nos Estados Unidos e parte agora para as livrarias brasileiras: será lançado na segunda-feira 21, em São Paulo, numa conferência de Roizen. A chave do sucesso, na verdade, é um chavão antigo. O autor usa a idéia de “meu corpo é um templo”, mas tira o caráter religioso e compara o ser humano a uma casa. O coração vira o reservatório de água, o cérebro é, claro, a caixa de força, veias viram paredes e ossos são vigas de sustentação. Deste modo, fica mais fácil para o dono do imóvel fazer reparos e a manutenção de sua moradia.

Aos 53 anos, Roizen, reconhecido como um dos 100 melhores médicos americanos, é autor de dois outros sucessos (Idade verdadeira e Dieta da idade verdadeira). Diretor do Departamento de Anestesia e Tratamento Crítico da Universidade de Chicago, ele usa suas qualificações para debelar mitos e construir sólidas estruturas para a saúde. Faz isso com humor e linguagem fácil, uma “planta baixa” capaz de conduzir qualquer leigo em trabalhos de reforma doméstica que podem salvar vidas. Na entrevista que concedeu a ISTOÉ na semana passada, o médico dá uma pequena amostra de que seu manual é leitura absolutamente cativante.

ISTOÉ – O que o sr. tem a dizer aos brasileiros nesta viagem?
Michael Roizen –
Meu novo livro é o tema de minha visita. Basicamente, o que ele prega é que a pessoa se divirta com a maravilha que é o corpo humano e entenda como o próprio corpo é único. E que compreenda como é fácil fazer com que seu corpo aparente sinta-se e seja rejuvenescido.

ISTOÉ – Um dos pontos que mais chamam a atenção em seu livro se
refere aos mitos sobre saúde. O sr. diz, por exemplo, que é errado pensar
que homens não sofrem com osteoporose (doença degenerativa que
enfraquece os ossos). Por quê?
Roizen –
Os homens sofrem tanto quanto suas companheiras com esse mal, mas ele ocorre neles muito mais tarde do que nas mulheres. O que acontece é que os homens não viviam tanto, a ponto de apresentar a doença. Com o aumento da longevidade masculina, a osteoporose vem se manifestando mais claramente. Já começamos a ver homens com fratura de espinha e da bacia depois dos 70 anos. As estatísticas mostram que 15% dos homens sofrerão fratura de bacia após essa idade. O problema é que eles não se recuperam como as mulheres. Em pacientes femininos, 25% terão este problema e 25% não vão se recuperar. Entre pacientes masculinos, os que não se recuperam chegam a 40%.

ISTOÉ – No livro, o sr. compara o corpo a uma casa. Qual seria o ponto mais importante a ser mantido nesta residência?
Roizen –
O mais importante é entender o que é o envelhecimento arterial. Pegue-se como exemplo a parede da casa. Ela tem três camadas: os tijolos, o reboque e a massa corrida de acabamento. A pressão arterial é como um martelo e o colesterol é um remendo de cimento e de massa. A espátula que é usada para alisar a massa é o HDL (o bom colesterol). Uma inflamação na artéria é, neste caso, um remendo com massa que saiu mal-feito: forma um calombo na parede. O mais importante, portanto, é impedir que o martelo bata na parede e cause algum estrago. Se o martelo não atinge a parede, você não precisa de remendo. Ou seja: se a pressão arterial é normal, as chances de dano são bem menores.

ISTOÉ – O sr. recomenda que as pessoas façam palavras cruzadas para
prevenir o mal de Alzheimer. No Brasil, boa parte da população é iletrada.
Algum conselho para estas pessoas?
Roizen –
Sim. Sugiro que elas visitem um bairro desconhecido. Se percam por lá. Depois, tentem achar seu caminho de volta a algum ponto específico. Ou seja: exercitem a mente.

ISTOÉ – E no caso daqueles que são pobres? Como devem fazer para
cuidar da própria casa, do próprio corpo?
Roizen –
Procure andar 30 minutos por dia. Acredito que existam peixes baratos no Brasil. Comam muito peixe. Feijão é muito bom. Aqui nos Estados Unidos, as castanhas-do-pará e de caju brasileiras são muito famosas. Pois comam estas castanhas, frutas e se afastem daquilo que lhes fará mal, como as batatinhas fritas.