Seja pela variedade de cores, pela delicadeza, pela forma exótica, seja pela fragrância, a orquídea encanta em qualquer lugar do planeta. É uma paixão que vem de longa data. Confúcio, que nasceu em 551 a.C., já se rendia ao seu perfume, chamando a flor de “fragrância do rei”. Com o jurista brasileiro Damásio de Jesus, 66 anos, o feitiço não foi diferente. Ele conheceu a primeira orquídea quando tinha oito anos e não parou mais de correr atrás de suas variedades. Damásio conta que quando era menino fugia da mãe e, feito um bandeirante, se embrenhava pelos cafezais de Marília, no interior de São Paulo, para procurar a flor predileta. E não havia castigo que desse jeito no fujão. O garoto cresceu, virou promotor, jurista conceituado na área de direito penal, com 21 livros publicados. Dos cafezais de Marília para cá muita coisa mudou, menos a atração irresistível pelas flores.

Há duas décadas, ele deu vida ao sonho de infância. Comprou uma propriedade em Arealva, interior de São Paulo, e lá montou um orquidário particular, um dos maiores do País. São mais de 12 mil orquídeas, muitas vindas do Japão, Venezuela, Equador, Colômbia, Chile e Costa Rica. No viveiro, as espécies crescem ao som da Quarta Sinfonia de Vivaldi. “A música ativa o crescimento da planta. Além disso, quem ouve música fica mais feliz e não é justo privá-las dessa alegria”, afirma o jurista orquidófilo. Seu caso de amor com as flores já deu frutos. Com a doação de 2,5 mil mudas, Damásio ajudou a criar o Orquidário Municipal de Bauru, cidade próxima.

Na propriedade de oito alqueires, há orquídeas por toda parte, agarradas nos troncos das árvores ou subindo nas paredes, caso das chuvas-de-ouro. Todas catalogadas no computador e com plaquinhas com a idade – as menores vão para o berçário ou maternal – e nome científico. É tanta planta que pode-se pensar que Damásio anda carregando a floresta para Arealva. Mas o jurista vai logo avisando: “O que entra aqui tem autorização do Ibama. Uma vez por ano, envio um relatório das plantas exóticas e raras do viveiro.” Casado há 40 anos com dona Neuza, Damásio compara as orquídeas às duas filhas e aos três netos. “Se eu disser que tenho preferência por alguma, as demais se ressentem. Todas são minhas preferidas”, afirma. Ele cuida de tudo sozinho e espalhou seu embevecimento pela natureza. Em seu recanto, há vitórias-régias, rendas-portuguesas, peperômias, bromélias, pingos-de-ouro, bandeiras brancas e três mil pés de coqueiros. Jatobás, cabreúvas, flamboyants e laranjeiras de parreira também têm vez. Depois das plantas, a paixão do jurista são as aves. Há dezenas de pássaros soltos na propriedade, entre eles 80 flamingos e um casal de grous (pássaros gigantes) trazidos da África. Quando chega um visitante, os flamingos dão as boas-vindas dançando um balé especial sob a regência do anfitrião.