O secretário de Obras do Amazonas, João Coelho Braga Filho, conhecido como Braguinha, foi indiciado pela Polícia Federal na quinta-feira 13. Ele é um dos responsáveis pela armação de uma gravação contendo um diálogo comprometedor. A fita montada por Braguinha e pelo assessor parlamentar Nivaldo Marinho contém uma conversa atribuída ao deputado estadual Mário Frota (PDT-AM) e ao empresário David Benayon. No suposto telefonema, Frota informava ao amigo que o ex-senador Jader Barbalho estaria pedindo US$ 5 milhões para liberar recursos da Sudam a projetos encabeçados por Benayon. ISTOÉ recebeu cópia dessa fita e a encaminhou ao foneticista Ricardo Molina Figueiredo. A perícia concluiu que a gravação não sofrera nenhum tipo de edição. O que o perito não disse, nem poderia dizer naquele momento, é que a voz gravada era uma perfeita imitação da voz de Mário Frota. Em agosto, a revista publicou o suposto diálogo.

A repercussão foi imediata. O Conselho de Ética do Senado passou a investigar a denúncia. Mas, como o deputado Frota negou a existência de tal conversa, ISTOÉ novamente procurou o perito Molina para que fosse feita perícia de análise das vozes. O resultado foi definitivo: a gravação era uma farsa. Em 22 de agosto, após exaustiva investigação, a revista revelou toda a trama que havia por trás da armação. Nivaldo, antigo conhecido de Braguinha, era assessor de Frota, o principal opositor do governador Amazonino Mendes (PFL). Ele imitava a voz do deputado com perfeição e estava insatisfeito com o salário recebido. “O Braguinha me ofereceu duas casas e muito dinheiro para imitar a voz do deputado e fazer a gravação”, disse Nivaldo. “Mas, no final da história, acabei recebendo apenas R$ 12 mil.” Ainda em agosto, ISTOÉ publicou que, além de Braguinha e Nivaldo, o deputado Pauderney Avelino, vice-líder do PFL na Câmara, também teria participado da fraude. Ele foi o mentor do texto gravado pelo ex-assessor. As denúncias de ISTOÉ foram responsáveis pelo inquérito da PF que indiciou Braguinha , Nivaldo e mais duas pessoas.

“O trabalho da revista foi maravilhoso. ISTOÉ desmascarou uma fraude, deu nome aos bois e é a principal responsável pelas punições”, afirma o deputado Frota. Tão logo confirmou sua participação na fraude e revelou quem mais havia participado do crime, Nivaldo foi encaminhado ao Programa de Proteção à Testemunha, onde está até hoje. Por isso, não foi localizado na última semana. Braguinha se recusou a dar entrevistas, mas uma nota emitida pelo governo do Amazonas informa que o governador não irá afastá-lo do secretariado até que o caso seja julgado em última instância. Além de remunerar Nivaldo, o secretário Braguinha é acusado de ajudar a falsificar documentos e testemunhos. Ele encaminhou documentos à imprensa dizendo que o deputado Frota havia comprado motores para uma lancha com dinheiro do empresário Benayon. A PF concluiu que os documentos eram falsos e também indiciou o dono da Amazonaútica, que teria vendido os motores, e um funcionário da loja que assinou a declaração entregue por Braguinha. “Agora é preciso comprovar a participação do deputado Pauderney, pois tenho certeza de que ele foi o mentor de tudo isso”, diz Frota.