Na mitologia grega, Tânatos é o deus da morte, filho da Noite, encarregado de levar os mortos ao reino subterrâneo do Hades. “Operação Tânatos” foi o nome que o governo da Colômbia adotou para a ofensiva militar lançada na noite de quinta-feira 21 para reconquistar a área desmilitarizada de 42 mil quilômetros quadrados, localizada no sul do país, que tinha sido cedida às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o maior grupo guerrilheiro colombiano (cerca de 15 mil combatentes). Helicópteros Black Hawk e jatos AT-37 e Kfir, da Força Aérea colombiana, realizaram cerca de 200 missões, bombardeando pelo menos 85 posições da guerrilha, como pistas de pouso, acampamentos, bases de apoio, estações de comunicação e, segundo os militares, depósitos de cocaína. Pelo menos 13 mil soldados do Exército, fuzileiros navais e comandos de forças especiais se preparavam para ocupar a área por terra.

Já na manhã de sexta-feira 22, tropas do Exército entraram na cidade de San Vicente del Caguán, principal município da zona desmilitarizada das Farc, sem encontrar resistência dos guerrilheiros. Acredita-se que eles evitarão um confronto aberto com os militares, refugiando-se nas montanhas. O rompimento das negociações de paz, que se arrastavam desde o início de 1999, foi anunciado na própria quinta pelo presidente Andrés Pastrana. “Manuel Marulanda, eu te dei minha palavra e a cumpri. Você assaltou minha boa-fé e a de todo povo colombiano”, disse um Pastrana misturando cansaço e indignação, referindo-se ao líder máximo da guerrilha, também conhecido como “Tirofijo” (tiro certeiro). A decisão do governo de cancelar o processo de paz e atacar o território conhecido como “Farclândia” veio depois da última ação da guerrilha: o sequestro, na quarta-feira 20, de um bimotor comercial e a retenção, como refém, do senador Jorge Eduardo Gechen Turbay, do Partido Liberal. “O copo já estava cheio e o sequestro do avião foi a gota d’água”, afirmou o ex-chanceler Augusto Ramírez Ocampo.

A decisão de Pastrana recebeu apoio de todos os partidos políticos colombianos e dos candidatos presidenciais, inclusive de Álvaro Uribe, líder direitista favorito para ganhar as eleições de maio próximo e que defende uma política de linha-dura contra os grupos guerrilheiros. A Casa Branca, que nunca acreditou no processo de paz, também demonstrou satisfação com a decisão colombiana. Os EUA já forneceram US$ 1,1 bilhão em armas e programas de assistência militar à Colômbia e têm pelo menos 250 conselheiros militares no país, além de outros assessores ligados à assistência militar, dentro do Plano Colômbia, elaborado para combater a guerrilha e o narcotráfico.

A ofensiva é o fim melancólico do grande projeto político de Pastrana, eleito em 1998 com a promessa de acabar com um conflito de quase quatro décadas que provocou a morte de 40 mil pessoas. O presidente se empenhou pessoalmente na pacificação e foi muito criticado por ter concedido à guerrilha uma área equivalente a uma Suíça para que se realizassem as conversações de paz. Nesses três anos, o processo não avançou e as ações guerrilheiras, como ataques e sequestros, continuaram. Agora, o temor é o início de uma guerra prolongada, já que a saída das Farc abre caminho para a vingança dos grupos paramilitares de extrema-direita contra a população civil. Na opinião de alguns analistas, o impasse fará a Colômbia voltar aos anos 60, já que “nem as Farc tem capacidade militar para tomar o poder nem o Exército tem como derrotar a guerrilha”, segundo disse o professor Juan Carlos Ruiz, da Universidade Javeriana de Bogotá. O reinado de Tânatos promete ser longo na Colômbia.