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NA POLÍCIA
Fred, alvo dos fãs do Fluminense: inquérito vai apurar perseguição sofrida

No celular, um número desconhecido chama e ameaça: se não jogar direito, vai apanhar. Em frente à casa do jogador de futebol, um grupo o intimida na presença da família. Dentro do restaurante, atletas são perseguidos e cobrados. E, não eventualmente, situações assim acabam em violência física. O medo entrou em campo para os jogadores de futebol brasileiros. E não é medo de times adversários. É de quem torce pela mesma bandeira, de quem, teoricamente, está do mesmo lado. Fred, capitão do clube carioca Fluminense, é a mais recente vítima da perseguição de torcedores. Em uma das situações, ele e o colega de time Rafael Moura estavam em um restaurante, em Ipanema, no Rio de Janeiro, quando torcedores do Flu começaram a tirar satisfações sobre jogos passados. Eles saíram do local e a perseguição continuou, perigosamente, nas ruas. Por iniciativa do Ministério Público, o procurador-geral de Justiça Cláudio Lopes pediu, na segunda-feira 8, a instauração de um inquérito cível para investigar este caso e punir os dois acusados com base no Estatuto do Torcedor. “Vaiar e criticar é um direito que não vamos censurar, mas perseguir é intolerável e não podemos compactuar com isso”, diz o procurador-geral. Um dos suspeitos chegou a postar no Twitter: “Enquadramos o 9 na porta da casa dele”, escreveu, referindo-se a Fred.

A lista de hostilizados por torcedores este ano inclui os pentacampeões Roberto Carlos e Ronaldo Fenômeno. Por pouco, os dois escaparam de um apedrejamento contra o ônibus da delegação corintiana após a desclassificação do time da Taça Libertadores da América, em fevereiro. Coincidência ou não, Ronaldo decidiu que era hora de pendurar as chuteiras. E Roberto Carlos mudou de país. Hoje, ele joga pelo time russo Anzhi Makhachkala. Em dezembro de 2009, o jogador Vagner Love, então no Palmeiras e hoje no CSKA, de Moscou, foi agredido por um grupo de palmeirenses em São Paulo. O próprio Palmeiras, em maio, após perder de 6 a 0 para o Coritiba, viu o ônibus da delegação virar alvo de pedradas de torcedores intolerantes, em São Paulo.

Às vezes, as agressões não miram um atleta específico e, sim, o time inteiro. Em junho, um grupo de torcedores do Atlético Paranaense invadiu o centro de treinamento do clube para protestar contra os resultados ruins no brasileirão. Julião Sobota, vereador e presidente de uma torcida organizada, ameaçou os jogadores. “Se estes caras continuarem na gandaia, fazendo este papelão, vamos atrás deles. No dia seguinte, a imprensa saberá quem são, porque vão estar no hospital ou de molho”, ameaçou na ocasião. Na mesma época, na Argentina, os jogadores do River Plate disputavam uma partida, com desvantagem sobre o adversário, quando um grupo de torcedores invadiu o campo e empurrou um dos atletas.

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VIOLÊNCIA
Torcedores apedrejaram o ônibus do Corinthians depois
da desclassificação do time da Libertadores este ano

Para o pesquisador do Núcleo de Sociologia do Futebol, da Universidade Federal de Pernambuco, Túlio Velho Barreto, problemas assim são vivenciados em quase todos os centros esportivos da América Latina. “As repetições deste comportamento furioso se devem ao sentimento de impunidade, algo que permeia nossa sociedade”, diz ele, ao lembrar de um caso histórico: o colombiano Andrés Escobar foi assassinado depois da Copa de 1994, quando fez um gol contra que eliminou a seleção de seu país do Mundial. Ao perceberem que dificilmente alguma providência é tomada, muitos preferem mudar de país. “Hoje, a minha ideia é sair”, diz Fred.

O professor de sociologia da Universidade Universo, Maurício Murad, que dirigiu o Núcleo de Sociologia de Futebol da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e pesquisa o tema, acredita que os próprios clubes estimulam esse tipo de comportamento.“Eles dão ingressos para essas torcidas e até as usam quando querem se eleger para um cargo público”, afirma. E aponta alguns caminhos: “É preciso punir também os dirigentes que têm vínculo com setores violentos da torcida, além de promover ações educativas e o monitoramento de redes sociais, onde os torcedores criminosos combinam os ataques”, sugere.

Fred e Rafael Moura ainda terão que prestar mais depoimentos e os torcedores indiciados podem ser punidos por crime de ameaça com pena de até dois anos de prisão. Essa série de agressões conseguiu colocar todos os jogadores brasileiros no mesmo time – contra a intolerância de torcedores. Sebastián Abreu, o Loco Abreu, jogador do Botafogo, disse que começará um movimento com os capitães do Flamengo e do Vasco contra a perseguição a jogadores. “Só não quero falar agora para não parecer que estou me promovendo em cima do Fred”, afirmou Abreu à ISTOÉ.  

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