Donos de estilos diversos, mas igualmente inquietos, o paranaense Dalton Trevisan, com o livro de contos Pico na veia, e o carioca Bernardo Carvalho, com o romance Nove noites, foram os grandes vencedores da primeira edição do polpudo Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira, que distribuiu na terça-feira 4, em São Paulo,
R$ 150 mil aos melhores livros de autores brasileiros editados no País em 2002. A festa literária, com cacife e legitimidade para marcar anualmente a concorrida agenda cultural, aconteceu na Sala São Paulo, local apropriado para a noite regada a muita poesia, Noel Rosa e vinho do Porto. Eleitas por um júri de sete membros, as obras premiadas foram escolhidas entre dez finalistas. O prêmio principal, de R$ 100 mil, foi dividido entre Bernardo Carvalho e Dalton Trevisan. Em segundo e terceiro lugares ficaram dois livros de poesia – A regra secreta, do pernambucano Sebastião Uchôa Leite, que recebeu R$ 30 mil, e Horizonte de esgrimas, do paulista Mário Chamie, que recebeu R$ 20 mil.

Com outro título recém-lançado, Mongólia, Carvalho elogiou a premiação. “Acho uma ótima iniciativa, ainda mais depois de ganhá-la”, brincou. “O livro continua sendo o mesmo
com ou sem prêmio, mas estou felicíssimo.” Envolta em mistério, a história de Nove
Noites
acompanha a obsessiva investigação, empreendida pelo próprio narrador, do suicídio
de um antropólogo americano no interior do País, nos anos 1930. Mais urbano e minimalista na criação dos quase 200 contos de Pico na veia,
o consagrado e arredio Dalton Trevisan mantém-se fiel à sua mitologia. Avesso à exposição pública, não deu as caras na cerimônia nem mandou um representante.

Sem concorrer com o tradicional Prêmio Jabuti, em sua 46ª edição, o Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira tem ainda a vantagem de promover as letras nacionais em terras portuguesas. É o que pensa o empresário Eduardo Perestrelo Correia de Matos, presidente da Portugal Telecom Brasil, que investiu cerca de R$ 1 milhão no evento. “Para marcar uma presença institucional, nada melhor do que investir na área cultural. Percebemos que havia espaço para mais um prêmio literário de peso no País”, diz o português. Matos acredita que a iniciativa vai incrementar o intercâmbio cultural entre Brasil e Portugal. “Este prêmio é apenas a ponta do iceberg que começa a emergir”, afirma.