Boas lições políticas podem ser extraídas da quizumba financeira e administrativa da gestão Barack Obama – e devem servir de alerta para diversos chefes de Estado, inclusive do Brasil. A primeira e mais cristalina delas: jamais abusar da ideia de que o caixa do governo é infinito e se presta a sucessivos saques e gastos incontroláveis, mesmo sem lastro, a ser cobertos por pedidos de aditivos futuros. Por incrível que possa parecer, esse tipo de artimanha operacional ainda é largamente praticada pelos mandatários, não distinguindo porte ou riqueza da nação atingida por esse péssimo hábito. Obama apelou ao Parlamento por mais dinheiro para cobrir um rombo orçamentário sem precedentes no seu país. Sangrou politicamente pela resistência dos opositores. Um movimento denominado “Tea Party”, que prega essencialmente a responsabilidade fiscal e menos burocracia da máquina pública, tomou conta dos EUA e se sai bem na sua cruzada. Obama levou o dinheiro, mas com um desgaste de imagem que pode inviabilizar sua candidatura à reeleição presidencial em 2012. Obama errou ao não entender que o caminho mais curto e transparente da administração pública traz consigo o corte de gastos e não apenas a ampliação de benefícios, mesmo que para os setores mais necessitados. A arte de equilibrar populismo e pragmatismo faz o grande líder.
No aspecto da disciplina de contas, o Brasil, é bem verdade, já avançou muito e vem tendo eloquentes progressos a partir da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), adotada a partir do governo Fernando Henrique, que estabelece um teto de gastos para governos municipais, estaduais e federal. Como um antídoto contra governantes perdulários, a LRF normatizou e organizou, por áreas de investimento e compromissos, a entrada de recursos e a saída das despesas. Trata-se de uma regra elementar, adotada e ensinada por muitas famílias em casa, e que deveria inspirar todas as autoridades mundo afora. Ninguém pode usar mais dinheiro do que arrecada, mas Obama, como seus antecessores, parece convencido de que deve contrariar esse princípio – talvez movido pela ideia de estar à frente da nação mais rica do planeta e que para cada um dos seus projetos poderá sempre usar a máxima “Yes, we can”, slogan de campanha que o elegeu. Desta vez, as urnas poderão dizer a Obama que ele se equivocou.