Destricted.br/ Galpão Fortes Vilaça, SP/ até 29/8

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RADICAL
Still de “Petit a”, de Dora Longo Bahia, que aborda as relações entre três casais

Em inglês, destrict quer dizer “ilimitar a restrição”, ou “desconstruir fronteiras”. O termo dá nome a um projeto concebido pelo curador inglês Neville Wakefield que, em 2007, convidou oito artistas para mostrar em vídeos e filmes curtos suas visões da pornografia. Neste caso, destricted refere-se então à exploração – de maneira ­incansável, ilimitada – das relações entre arte, cinema e sexo. O resultado foi um longa-metragem exibido nos festivais de Sundance, Cannes, Locarno e Amsterdã. “Destricted.br”, versão brasileira do projeto, foi produzida por Marcia Fortes e Alessandra D’Aloia, ­proprietárias da galeria Fortes Vilaça. Oito diretores – sete brasileiros, um português e um espanhol naturalizado – foram convidados. Todos comparecem com vídeos, mas também com fotografias, pinturas e desenhos.

O resultado é diversificado, mas irregular. São inevitáveis as comparações. Adriana Varejão apresenta um trabalho frágil e tímido, diante da radicalidade – não apenas de carga sexual, mas, especialmente, de cinematografia – dos trabalhos de Miguel Rio Branco, Janaína Tschäpe e Dora Longo Bahia. Com uso excessivo de efeitos – transparências, fusões, câmeras lentas – o vídeo “Psinoe” denuncia a pouca familiaridade que Adriana tem com a imagem em movimento e certo deslumbramento em relação aos recursos dessa mídia. A fotografia “A Sereia e o Cinema”, still do vídeo, é mais eficiente.

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FRÁGIL
Still do vídeo “Psinoe”, de Adriana Varejão, que opta pela narrativa onírica

Já “Petit a”, de Dora Longo Bahia, é um dos trabalhos mais intensos e provocadores da mostra. A artista, que tem o vídeo como linguagem de expressão há pelos menos 15 anos, realiza aqui uma orquestração bastante madura de todas as etapas de realização cinematográfica. Dora manufatura desde os elementos de cena – como o taco de baseball com ponta fálica para a cena do sexo na cozinha – até a trilha sonora, de autoria da banda “Blá Blá Blá”, na qual é baixista. Nesse sentido, seus procedimentos chegam a lembrar os do americano Matthew Barney, celebrizado pela série “Cremaster Cycle”, e um dos artistas integrantes do projeto americano.

A mostra brasileira ostenta diferentes graus de envolvimento com o tema. Há desde o sexo explícito de “Day and Night Shots”, de Marcos Chaves, até o lirismo de “Bichos Pretos Coloridos”, do cineasta Karim Aïnouz, que evoca a técnica bucólica da fotografia de nudismo ao ar livre, ou “Cooking”, de Tunga, que faz escatalogia em alta definição, o que é bastante desconcertante. O vídeo de Tunga é o único que integrou o projeto original, lançado na Inglaterra.