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Os ministros da Economia dos países-membros da Unasul vão se reunir nesta quinta-feira (11), na Argentina, para debater um pacote de medidas que visa enfrentar os efeitos da crise financeira registrada na Europa e nos Estados Unidos. O texto com as medidas deve ser apresentado nessa sexta-feira (12) e constituirá "uma resposta política sem precedentes", de acordo com porta-vozes do organismo. O embarque do brasileiro Guido Mantega com destino a Buenos Aires está previsto para as 15h (de Brasília). As informações são da agência Ansa. 
 
Os ministros se propõem a acordar sobre "a construção de uma arquitetura financeira regional que consolide a solvência externa frente à instabilidade dos mercados internacionais". Segundo fontes do Ministério da Economia da Argentina, a reunião da Unasul também deve abordar uma coordenação entre as reservas dos Bancos Centrais para que haja transações intrabloco e o lançamento do Banco do Sul, cujo funcionamento foi reclamado por organizações sociais. 
 
Banco do Sul
 
Na quarta-feira, associações políticas e sociais pediram o início das atividades do Banco do Sul, que é uma proposta do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. A instituição tem como objetivo garantir financiamentos e empréstimos a países da região latino-americana, como uma alternativa ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional (FMI). 
 
Desde 2007, são discutidas as normas e regulamentações de funcionamento do Banco do Sul. O pedido para o início dos trabalhos da instituição foi liderado pelo Prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel, pela integrante da associação argentina Mães da Praça de Maio, Nora Cortiñas, e pela central sindical CTA. Segundo eles, o funcionamento do Banco do Sul é "inadiável", assim como "a concretização de um Fundo de Reservas do Sul, o controle cambial comum e a criação de mecanismos de intercâmbio que substituam a atual dependência do dólar americano".
 
"(O objetivo é) responder à crise como um grupo subregional, fiscalmente responsável, e que tem muito a mostrar ao mundo com as lições aprendidas em crises passadas", disse a secretária-geral da Unasul, Maria Emma Mejía. Inicialmente, o esboço do documento indica que os três primeiros capítulos devem se destinar à construção de uma arquitetura financeira regional sólida capaz de se manter protegida à volatilidade dos mercados internacionais. 
 
Os demais capítulos deverão tratar de medidas financeiras e monetárias para orientar os bancos centrais sobre as suas reservas. Também devem ser incluídas medidas de prevenção, como recomendações para o controle de capital e a busca por um sistema de câmbio flexível. Como estímulo ao comércio regional, serão sugeridas propostas para identificar os setores produtivos que podem se complementar nos diferentes países. 
 
Entenda
 
No auge da crise de crédito, que se agravou em 2008, a saúde financeira dos bancos no mundo inteiro foi colocada à prova. Os problemas em operações de financiamento imobiliário nos Estados Unidos geraram bilhões em perdas e o sistema bancário não encontrou mais onde emprestar dinheiro. Para diminuir os efeitos da recessão, os países aumentaram os gastos públicos, ampliando as dívidas além dos tetos nacionais. Mas o estímulo não foi suficiente para elevar os Produtos Internos Brutos (PIB) a ponto de garantir o pagamento das contas.
 
A primeira a entrar em colapso foi a Grécia, cuja dívida pública alcançou 340,227 bilhões de euros em 2010, o que corresponde a 148,6% do PIB. Com a luz amarela acesa, as economias de outros países da região foram inspecionadas mais rigorosamente. Portugal e Irlanda chamaram atenção por conta da fragilidade econômica. No entanto, o fraco crescimento econômico e o aumento da dívida pública na região já atingem grandes economias, como Itália (120% do PIB) e Espanha. 
 
Um fundo de ajuda foi criado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Central Europeu (BCE), com influência da Alemanha, país da região com maior solidez econômica. Contudo, para ter acesso aos pacotes de resgates, as nações precisam se adaptar a rígidas condições impostas pelo FMI. A Grécia foi a primeira a aceitar e viu manifestações contra os cortes de empregos públicos, programas sociais e aumentos de impostos. 
 
Os Estados Unidos atingiram o limite legal de endividamento público – de US$ 14,3 trilhões (cerca de R$ 22,2 trilhões) – no último dia 16 de maio. Na ocasião, o Tesouro usou ajustes de contabilidade, assim como receitas fiscais mais altas que o previsto, para seguir operando normalmente. O governo, então, passou por um longo período de negociações para elevar o teto. O acordo veio só perto do final do prazo (2 de agosto) para evitar uma moratória e prevê um corte de gastos na ordem de US$ 2,4 trilhões (R$ 3,7 trilhões). Mesmo assim, a agência Standard & Poor’s retirou a nota máxima (AAA) da dívida americana.