Desde a segunda metade dos anos 60, quando saracoteava à frente do prestigiado Jeff Beck Group ou se fingia de bêbado com seus colegas da banda The Faces, o inglês Rod Stewart não escondia sua predileção por músicas mais românticas, que em seu vocabulário roqueiro classificava de lentas. Perto de se tornar um sessentão – completou 58 anos na sexta-feira 10 –, o cantor de voz rouca, cabelos espetados e olhos esbugalhados finalmente realizou seu sonho em It had to be you…, the great american songbook, uma coleção de clássicos americanos dos anos 20 e 30, interpretados do fundo do coração. Em entrevista a ISTOÉ, Roderick David Stewart, um londrino de pais escoceses, declarou que até então não tinha conseguido encontrar o momento certo para lançar o disco que vinha formatando há sete anos. O empurrão final surgiu do empresário e amigo Clive Davis, que o convidou para integrar seu selo, o recém-inaugurado J Records. Assim, Stewart criou coragem e, contando com a produção de Davis, Richard Perry e do premiado Phil Ramone, começou a gravar em fevereiro de 2002.

No repertório, pipocam vários clássicos. Ouvem-se These foolish things, The way you look tonight, Moonglow, The nearness of you, You got to my head, That old feeling e, é claro, o Cole Porter de Every time we say goodbye e os irmãos George e Ira Gershwin de They can’t take that away from me. Rod Stewart, que cortejou a discoteca com sucessos do tipo Do ya think I’m sexy – na verdade um plágio de Taj Mahal, de Jorge Ben Jor –, orgulha-se de até hoje só ter contado com músicos nas suas turnês e de nunca ter dublado ou usado máquinas. Neste álbum, ele está cercado de instrumentistas de estúdio e de cordas. Ou seja, um crooner à moda antiga, mesmo sem ligar para o passado, principalmente o seu. “Se continuasse cantando com Jeff Beck eu nunca teria discos de sucesso”, justifica ele àqueles que sentem saudades dos velhos tempos.

Assim que deixou o Jeff Beck Group, o vocalista conseguiu manter duas carreiras simultâneas no papel de solista, emplacando um sucesso atrás do outro, como Maggie May, ou à frente do grupo The Faces. Também alternava hits esporádicos com álbuns medianos, seguidos de dezenas de excursões, inclusive ao Brasil, já como figura do jet set. No momento, ele ainda não sabe se It had to be you… renderá uma turnê – em novembro passado, ele terminou um giro mundial de 15 meses divulgando o CD Human. “Confesso que o sucesso deste álbum de clássicos me pegou de surpresa.” Já há quem pense num segundo volume. Seria bem-vindo, pois, para espanto de muitos, a voz de “lixa sendo passada em veludo negro”, segundo descrição do próprio, trouxe singularidade ao repertório de standards. Em casa, Rod Stewart continua fiel aos discos de Sam Cooke e de Ella Fitzgerald. “Também ouço grupos novos, como o Coldplay. Afinal, tenho cinco filhos cujas idades variam de nove a 22 anos e do quarto de cada um vem um som diferente.” Ainda bem.