A primeira intenção do diretor Roberto Santucci Filho era realizar uma fita de alta sofisticação, mas com orçamento baixo. Conseguiu. Tornou a história criada pelo guitarrista dos Titãs, Tony Bellotto, não só crível como palatável. Como filme policial, no entanto, Bellini e a esfinge (Brasil, 2001) – cartaz nacional na sexta-feira 1º – não faz ferver o sangue do espectador. Só chega perto. Falta o tom típico do estilo, que diferencia o simpático do perturbador. A começar pelo elenco, que reúne interpretações nada avassaladoras de Fábio Assunção, na pele do detetive Remo Bellini, e de Malu Mader como a prostituta Fátima. Bellini e a esfinge, que recebeu o prêmio do público de melhor filme brasileiro no Festival do Rio BR 2001, saiu do empenho de Bellotto e Malu. Além de serem co-produtores, também pegaram no batente nos bastidores. O guitarrista-escritor divide a trilha sonora com o colega de banda Charles Gavin, com Andreas Kisser, do Sepultura, e com Eduardo Queiróz. Malu, que deu palpites desde quando Bellotto escrevia sua deliciosa história, teve um empenho pessoal para ganhar o papel da figura feminina mais fascinante da trama.

Totalmente filmado em São Paulo, o filme tem a vantagem de fazer uma radiografia da cidade, incluindo seu lado mais underground. É por este cenário que Bellini circula na tentativa de descobrir o paradeiro da misteriosa prostituta Ana Cintia. Calcado em Sam Spade e Continental Op, heróis da ficção policial americana cultuados por Bellotto, o Bellini de Assunção não corresponde ao inventado pelo autor na literatura. Sua figura um tanto europeizada não se casa com o personagem amargo, principalmente quando esta amargura se deve a uma desilusão amorosa. Chefiado por Dora Lobo (Eliana Guttman), o detetive passa o filme se deparando com figuras enigmáticas como a sinuosa Beatriz (Maristane Dresch), o traiçoeiro Stone (Claudio Gabriel) e o torturante Bóris (Carlos Meceni). O problema é que está sempre um semitom abaixo.