Apesar de um dia ter tido o nome pomposo de Estados Unidos do Brasil, o nativo nunca deixou de ser chamado de brasileiro. Com o México e o Canadá aconteceu a mesma coisa. Só os Estados Unidos da América nomeiam seus habitantes de “americanos”. Para o cineasta franco-suíço Jean-Luc Godard, em cartaz em São Paulo com Elogio ao amor (Eloge de l’amour, França/Suíça, 2001), por trás desta arrogância existe uma completa falta de identidade. A maior potência mundial, na verdade, não tem nome. Nem mesmo um apego à própria memória. Por esta razão, Hollywood filma sem parar a história de outras nações. A acusação ferina de Godard acontece num momento-chave do filme, quando supostos empresários de Steven Spielberg tentam convencer um casal de velhos da Resistência Francesa a vender os direitos de filmagem de sua biografia.

O tom antiamericano de Elogio ao amor, que atribui àquele país muitas das mazelas do mundo globalizado, é curto e grosso. Mas não transforma a obra num panfleto ressentido. É apenas um dos inúmeros pensamentos e reflexões que pontuam a fita, um melancólico registro das andanças do diretor e músico Edgar (Bruno Putzulu) por uma Paris cheia de miseráveis, mostrada em esplêndido preto-e-branco. Ele está em busca de atores e locações para criar uma obra sobre os quatro momentos do amor – o encontro, a paixão física, a separação e o reencontro. É sempre difícil saber exatamente qual o tema dos filmes de Godard.  Ele aperfeiçoou um estilo fragmentado, no qual vários assuntos são tratados ao mesmo tempo. O mais focado desta vez é o da chamada idade adulta. Diferentemente da juventude e da velhice, na visão de Edgar a maturidade é um período difuso. Talvez nem exista. O que o leva a afirmar com serenidade que “as coisas só ganham sentido quando acabam”.