Carimbado com selo de escândalo e polêmica, O crime do padre Amaro (El crimen del padre Amaro, México/Espanha/Argentina/França, 2002) – rival de Cidade de Deus no próximo Globo de Ouro de melhor filme em língua estrangeira –, em cartaz em São Paulo na sexta-feira 17, decepciona os que esperam uma vigorosa adaptação do romance anticlerical do português Eça de Queiroz, publicado em 1875. É que a ousadia do diretor mexicano Carlos Carrera se limita a atualizar a trama, originalmente passada numa
provinciana cidade portuguesa, para uma não menos tacanha
comunidade mexicana dominada na surdina por chefões do
narcotráfico, aos quais o clero se submete de joelhos em troca de pequenos favores pecuniários, endereçados a obras de caridade.

Recém-chegado ao vilarejo, padre Amaro (Gael García Bernal) logo
se inteira do ambiente corrompido, mas em nome da ambição curva-se
aos ditames superiores. Para completar, decide abolir o celibato, sem renegar a batina, e acaba engravidando a jovem Amélia (Ana Claudia Talancón), filha da dona de um restaurante habituada a desfiar o rosário no leito do pároco local. Esta decisão acontece sem os esperados conflitos e é a partir daí que Carrera descamba para a saída fácil
do melodrama. De resto, há alguns rasgos satíricos no desrespeito
aos sagrados símbolos religiosos, mas nada que afaste o tédio
do espectador. Entre as heresias encontram-se a imagem de uma
beata alimentando sua gata com hóstia e a cena de Amaro cobrindo
a amante nua com um manto da virgem, enquanto recita o Cântico
dos cânticos
. Tais gracinhas geraram furor na Igreja mexicana. Em compensação, elevaram o filme à categoria de o mais visto no país.