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Ela intensificou as idas à academia, começou a fazer aulas de Pilates e se submeteu a uma dieta rigorosa. Já emagreceu 12 quilos nos últimos meses. Tem usado ternos mais claros, a fim de transparecer um semblante de mais leveza e simpatia em vez da usual sisudez. Aproximou-se do empresariado. Para completar agora o curso intensivo de iniciação à vida eleitoral, Dilma começa um périplo pelos grotões do Brasil ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para anunciar o programa social Territórios da Cidadania, cujos investimentos chegam a R$ 11,3 bilhões. Todos esses ingredientes somados não deixam margem para dúvidas: a chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff, resolveu mesmo vestir o figurino de pré-candidata à sucessão presidencial em 2010.

A decisão de se submeter ao teste de popularidade em viagens pelo País foi motivada por orientação do próprio Lula. O presidente quer eleger um sucessor de sua confiança daqui a dois anos. Alguém que possa lhe pavimentar a volta ao poder em 2014. Lula tem pelo menos cinco cartas na manga: além de Dilma, os ministros Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), Marta Suplicy (Turismo), Tarso Genro (Justiça) e o deputado Ciro Gomes (PSB-CE). Em princípio, o presidente não desestimula nenhuma dessas alternativas. Mas, hoje, a predileção recai sobre Dilma. Em recente conversa, ela comprometeu-se com Lula a não tentar a reeleição, caso seja eleita presidente. Lula gostou do que ouviu.

Essa vantagem de Dilma, aos olhos de Lula, porém, é também seu maior defeito. Como ela nunca disputou sequer um cargo de vereadora, falta à ministra traquejo e malícia política. “Dilma, você precisa perder essa cara de escritório. Tem que desintoxicar ficando mais perto do povo”, disse Lula, antes de anunciar publicamente, na terça-feira 26, que irá percorrer várias cidades brasileiras, principalmente as do Nordeste, acompanhado da ministra-chefe. Isolada, sem que se cole nela a idéia de ser de fato a aposta de Lula, Dilma aparece mal nas pesquisas, com menos de 5%. Mas, de acordo com o presidente do Instituto Sensus, Ricardo Guedes, as pesquisas demonstram que Lula teria uma impressionante capacidade de transferência de votos, na faixa de 13%. Se isso se confirmar com Dilma, já seria o suficiente para colocá-la no páreo, mas ainda atrás de José Serra, do PSDB, e de Ciro Gomes, do PSB, os nomes que lideram as intenções de voto.

Dentro do roteiro de ministra-candidata, na quinta-feira 27, Dilma esteve ao lado de Lula em Quixadá (CE), para lançar no município o Territórios da Cidadania, que irá beneficiar 958 municípios, por intermédio de 135 ações de governo que irão envolver 19 ministérios. A idéia é melhorar as condições de vida da população residente nas 60 áreas de menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil. A maior parte dos municípios beneficiados fica em Estados administrados pelo PT e pelos partidos da base aliada. Além do novo programa social, nesta semana Lula e Dilma inauguram obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em favelas e regiões da periferia do Rio de Janeiro. O comando dos R$ 503,9 bilhões do PAC ajuda a aproximar Dilma do empresariado.

Mas, se Dilma ampliou o trânsito com o empresariado, o mesmo não se pode dizer da sua relação com os principais partidos da coalizão governista. “Estou treinando com o bambolê, mas até agora não adiantou nada”, brincou a ministra, numa referência ao presente que ganhou do líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), para que desenvolvesse jogo de cintura. Há duas semanas, o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS) bateu boca com Dilma. Beto tentava incluir uma obra no PAC. Dilma retrucou que seus técnicos diziam que a obra não tinha viabilidade. “O problema é que tu só dás ouvidos a esses seus técnicos e não escutas quem tem 200 mil votos e conhece a região muito melhor que eles”, bradou Albuquerque, com o dedo em riste.

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PARTIDA Lula lança, na terça-feira 26, o programa Territórios da Cidadania e Dilma começa a vestir o figurino de candidata

A queixa que Albuquerque fez diretamente a Dilma é repetida nos partidos, incluindo o próprio PT. A briga maior é com a ala petista ligada à ministra do Turismo, Marta Suplicy. O grupo enxerga as digitais da ministra na articulação que limou a influência do grupo de Marta na composição do diretório nacional do PT, alçando o deputado José Eduardo Cardozo (SP) ao cargo de secretário-geral. E avalia que houve uma aliança tácita entre Dilma e Tarso Genro, na qual o ministro da Justiça se colocaria como a primeira alternativa, caso não venha a dar certo a aposta eleitoral em Dilma.

Outro entrave que Dilma terá de superar virá do PMDB, por conta da briga pelo comando do setor energético. O partido ameaça, por exemplo, barrar a indicação de Bernardo Figueiredo de Oliveira, subchefe da Casa Civil, nome de Dilma, para a diretoria-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres. Oliveira precisa da aprovação do plenário do Senado, mas o PMDB só vai avalizá-lo se as indicações do partido na área de energia forem confirmadas. Na semana passada, as indicações foram adiadas novamente. Os peemedebistas ensaiam mesmo um susto maior no governo: entravar a MP que estabelece mudanças na CSLL e no IOF para o fim da CPMF. Se o PMDB cravar em Dilma a responsabilidade por algo assim, colocará uma pedra imensa logo no início do caminho presidencial da ministra da Casa Civil. Como se vê, Dilma terá que treinar muito com seu bambolê, se quiser mesmo ser candidata ao Planalto em 2010.