Eles estão em todas as partes, derrubando as paredes de suas casas e fazendo com que as cozinhas se expandam pelo apartamento que chamam de loft. Na decoração, espalham geladeiras do tamanho de minivans em
pé e um mobiliário velho, meticulosamente restaurado ou fabricado de tal modo a parecer de segunda mão, embora nunca tenha tido um dono. Assim são descritos os bubos, burgueses boêmios, fruto da mistura entre os radicais hippies dos anos 60 e a burguesia yuppie dos anos 80. Os bubos formam uma elite que hoje em dia circula
com seus casacos capazes de enfrentar as neves do Everest
e seus jipões fabricados para trafegar com segurança na Faixa de
Gaza, quando no máximo devem estar se dirigindo ao shopping center mais próximo em busca de alimentos orgânicos. A nova casta é
perfilada no ensaio Bubos no paraíso, burgueses boêmios – a nova
classe alta e como chegou lá
(Rocco, 268 págs., R$ 32), escrito
no final da década passada pelo jornalista americano David Brooks
que, depois de uma estadia de quatro anos fora dos Estados
Unidos, voltou estranhando anúncios de grandes corporações,
como a Microsoft e a Gap, que citam Ghandi e Jack Kerouac.

Brooks inicia sua especulação sobre as elites americanas pela seção
de casamentos do jornal The New York Times, identificando a troca
de posto entre a aristocracia e a meritocracia, neologismo para a sociedade feita de méritos. Nos anos 50, analisa ele, as uniões combinavam relações de estirpe e parentesco. Hoje, o que se vê são acordos entre predadores e educadores, ambos com vários diplomas
na parede. De acordo com o autor, ao transferir poder e dinheiro a
esta gente, a antiga elite wasp americana – sigla para branco, anglo-saxão e protestante – destruiu a si própria. O assunto garante muitas boas risadas. Principalmente na parte em que trata da SID – status income disequilibrium, desequilíbrio de status-renda. Para Brooks,
o intelectual dos dias de hoje saiu do gueto, aparece na televisão,
vive bem, mas transita entre ignorantes de muito, muito dinheiro que sofrem da síndrome reversa. Exemplo: intelectuais e ignorantes adoram Paris. Só que os primeiros viajam para lá a convite, com despesas
pagas, enquanto os outros têm um apartamento no Marais, mas não falam francês. Puro resquício do embate entre burguesia e boêmia.


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