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PALOCCI
Telefonemas provam relação com República de Ribeirão

De uns tempos para cá só havia boas novas para o deputado Antônio Palocci (PT). Ele voltou a freqüentar o Palácio da Alvorada como conselheiro econômico do presidente Lula, chegou a ser sondado para retornar ao Ministério da Fazenda, conseguiu que seu nome fosse especulado como eventual candidato do PT à sucessão presidencial e foi indicado para a tarefa política mais importante do ano, de relator da reforma tributária. A safra de boas novas chegou ao fim na semana passada por uma canetada do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza. Em denúncia enviada ao Supremo, o procurador- geral incluiu Palocci no rol de acusados pela quebra ilegal do sigilo fiscal e bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, em março de 2006. Foi Francenildo quem revelou a existência de uma mansão em Brasília onde um grupo de amigos e ex-assessores de Palocci em Ribeirão Preto reuniam- se para fazer lobby, dividir dinheiro de negócios e, eventualmente, promover festas com garotas de programa. Segundo Francenildo, Palocci também freqüentava a mansão. Foi aí que assessores de Palocci quebraram o sigilo de uma conta bancária do caseiro para tentar desmoralizá-lo. A idéia era dizer que o caseiro recebeu dinheiro da oposição para acusar o então ministro. Palocci negou ter quebrado o sigilo bancário de Francenildo, mas acabou se demitindo. Na denúncia, o procurador-geral diz ser “incontroversa” e “indubitável” a responsabilidade do ex-ministro na quebra ilegal do sigilo do caseiro.

“Não há nenhuma prova testemunhal ou pericial contra o ministro”, diz José Roberto Batocchio, advogado de Palocci. “Ele tem consciência de que não cometeu nenhum crime.” Na documentação analisada pelo procurador-geral da República está a quebra do sigilo telefônico da linha 8111-7197. Trata-se do celular, registrado em nome da Presidência da República, mas usado por Palocci enquanto foi ministro da Fazenda. O sigilo desse número foi quebrado pela CPI dos Bingos, mas seu conteúdo está sendo mantido até hoje em segredo. Nos três anos em que foi ministro, Palocci usou o número 53.385 vezes, somando as ligações que fez ou recebeu. A CPI conseguiu rastrear o interlocutor de 16.962 ligações e enviou a listagem para o Ministério Público. ISTOÉ teve acesso à relação completa dos telefonemas rastreados. Pela análise das ligações, o MP já concluiu que o número era utilizado por Palocci. Foram feitas, por exemplo, 155 ligações para um telefone que está em nome de Margareth Rose Silva Palocci, esposa do ex-ministro. Também estão registradas 16 ligações para o número do ex-ministro José Dirceu, 13 para o ministro Paulo Bernardo e sete para o banqueiro Armínio Fraga. Até aí tudo bem. O problema reside na análise dos telefonemas para os amigos de Ribeirão Preto.

Há 1.748 ligações para Vladimir Poleto, 1.196 ligações para Ralf Barquete (falecido) e outras 935 para seu irmão Ruy Barquete, todos os três suspeitos de montar um esquema em Brasília para renovar o contrato da Loteria da Caixa Econômica Federal com a multinacional GTech. Há 220 ligações para Marcelo Franzini, ex-sócio da Leão Leão, e outras 34 para a Leão Leão, empreiteira investigada pelo MP paulista por suspeita de haver pago um mensalão de R$ 50 mil a Palocci quando ele foi prefeito de Ribeirão Preto. Há oito ligações para Renato Cabral Catita, dono da empresa que ganhou a licitação da prefeitura para fornecer molho de tomate peneirado com ervilha, outro caso sob investigação. Os problemas são maiores. Há 118 ligações para Roberto Carlos Kurzweil, acusado de arrecadar dinheiro de bingueiros para o PT. Há 61 ligações para o empresário de Ribeirão José Roberto Colnaghi, acusado de emprestar o jatinho para Palocci. Todos esses telefonemas foram trocados com o número da Presidência, usado por Palocci.

Há 101 ligações para o lobista Carlos Eduardo Valente, que junto com Colnaghi tentou comprar o Banco de Investimento Prosper, especializado em negócios com a Petrobras. O mais constrangedor desse rastreamento é que há 16 ligações para um número em nome de Jeane Mary Córner, a cafetina que fornecia garotas para a mansão onde trabalhava o caseiro Francenildo.