Há anos, os dermatologistas e os proprietários de clínicas de estética travam uma luta. Os especialistas querem proibir o uso das câmaras de bronzeamento artificial porque as radiações emitidas por esses equipamentos oferecem risco de ocorrência de problemas de saúde, como o câncer de pele. No entanto, os donos dos centros de beleza acham que o perigo só existe quando o método é mal utilizado. Para tentar colocar um pouco de ordem na questão, o governo resolveu intervir. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) criará uma regulamentação para a utilização dos aparelhos. “Pelo menos vamos conseguir diminuir os riscos”, acredita Claúdio Maierovitch, diretor adjunto da Anvisa.

A proposta de regulamentação está aberta para sugestões e consulta pública na internet (www.anvisa.gov.br). Por isso, poderão surgir alterações no seu texto final, previsto para entrar em vigor dentro de quatro meses. Por enquanto, os principais tópicos da norma são a proibição de menores de 16 anos de aderir ao método e a permissão da técnica aos jovens de 16 a 18 anos apenas com a autorização de responsável legal. A clínica também deverá fazer uma avaliação médica para conhecer o risco de o cliente desenvolver algum problema de saúde. É preciso saber, por exemplo, se há casos de tumor de pele na família, o que aumenta as chances de ocorrência. Outro ponto que deverá ser levado em consideração na hora de selecionar o cliente é a sensibilidade da pele. Geralmente, correm mais perigos aqueles que têm a pele clara e não conseguem se bronzear. “Já será uma vitória se conseguirmos afastar pelo menos as pessoas com maiores chances de desenvolver alguma doença”, acredita Marcus Maia, coordenador do Programa Nacional de Controle do Câncer da Pele, da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

Riscos – Para os médicos, a regulamentação é um avanço, mas não
está livre de críticas. “É preciso saber se realmente haverá uma fiscalização adequada”, questiona Sílvia Pereira, dermatologista da Universidade Federal de São Paulo. A Anvisa garante que o procedimento será feito com frequência. Alguns proprietários de clínicas vêem a iniciativa com bons olhos. É o caso do administrador Ricardo Nemer,
dono da clínica Beauty House, em São Paulo. “Sou a favor da lei porque ela irá ajudar a profissionalizar a área”, afirma. De fato, hoje em dia
as câmaras de bronzeamento artificial deixaram de ser encontradas somente em clínicas de estética e podem ser vistas até mesmo em pequenos salões de beleza.

Essas câmaras conseguem bronzear porque emitem raios ultravioleta A e B, os mesmos transmitidos pelo sol. Porém, a radiação dos equipamentos é bem mais intensa do que a natural. “Tanto é que 15 minutos na câmara significam um dia todo no sol”, afirma Otávio Macedo, dermatologista de São Paulo. Por isso, é ilusão achar que é menos prejudicial passar um pouco de tempo na câmara do que o dia todo na praia. O prejuízo para o corpo é o mesmo – ou pior – até porque a maioria dos clientes não usa protetor quando opta pelo bronzeamento artificial. E sabe-se que os raios ultravioleta podem causar alterações nas células, com possibilidade de levar ao câncer de pele. Um estudo americano realizado pela Faculdade de Medicina de Dartmouth, divulgado recentemente, comprova essa tese. Os pesquisadores entrevistaram cerca de 1,5 mil pessoas entre 25 e 74 anos para analisar os motivos que levaram algumas a ter tumor de pele e outras não. Todos contaram seus hábitos de vida. Dessa maneira, os cientistas puderam descobrir os motivos ligados à doença. O resultado foi assustador. A maioria dos participantes adeptos do bronzeamento artificial apresentou duas vezes mais chances de desenvolver algum tumor de pele devido às lesões causadas pelos raios emitidos pela câmara. Os efeitos nocivos do equipamento não se restringem ao tumor. Os raios também provocam manchas, envelhecimento precoce por danificar a elasticidade da pele e descolamento da retina.