A princípio, parecem coisas absolutamente incompatíveis. Crianças e ioga – a milenar prática oriental baseada em exercícios respiratórios, de postura e meditação – podem soar como água e vinho. Afinal, como juntar em um mesmo espaço a inquietação da garotada e a serenidade da técnica? Apesar de inusitada, a combinação tem tido sucesso no Brasil. Academias do Rio já contam com alunos mirins interessados nos benefícios da ioga. São crianças a partir de seis anos, que fazem os exercícios, meditação e até entoam os mantras, espécie de cantos que ajudam a entrar em estado contemplativo.

Para os pequenos, a ioga é ensinada como se fosse uma brincadeira. As crianças realizam movimentos que imitam animais, árvores e outros elementos da natureza. As aulas, em clima de brincadeira, duram cerca de uma hora. “Com os exercícios, elas aprendem a se concentrar melhor nas atividades que devem desempenhar e também a passar pelas dificuldades com mais tranquilidade”, afirma a instrutora infantil Jane Pessôa, da academia Hermógenes, no Rio. Por isso, a ioga pode ser uma boa alternativa para crianças extremamente ativas e também servir como uma ajuda extra para melhorar o desempenho escolar. Os resultados têm agradado tanto que muitos dos alunos estão estimulando seus pais a participar das aulas. “Eles já vêm à academia trazendo os pais e os avós pela mão”, conta Léa Mello, diretora da Academia Brasileira de Ioga, também no Rio.

União – Na verdade, o interesse infantil pela prática é o reflexo mais recente da onda de ioga que tomou conta do mundo nos últimos anos. A técnica virou moda – de Madonna a Maitê Proença, muita gente está fazendo. Essa febre vai ao encontro da tendência de mesclar malhação e bem-estar. Cada vez mais as pessoas querem manter o corpo em forma, com os músculos bem torneados, mas desejam atividades que, além de propiciarem um bom trabalho muscular, também envolvam espiritualidade e melhora da alma e da mente. A ioga se encaixa perfeitamente nessa demanda. Criada há cinco mil anos, a prática, cujo nome quer dizer união, mistura exercícios físicos – há muito alongamento –, respiratórios e meditação. Além disso, a atividade também está baseada em filosofias de vida e crenças. “Os exercícios são na verdade apenas uma parte. Hábitos saudáveis, como alimentação equilibrada e honestidade, também são ioga”, explica Tânia Sturzenegger, instrutora e pesquisadora da técnica. “Quando se trabalha com integridade e gostando do que se faz, pratica-se ioga”, completa Cristovão de Oliveira, do Espaço Vidya, em São Paulo.

Efeitos – Essa diversidade de ações resulta em benefícios variados. Eles vão desde a melhora na forma física e aumento de disposição até a diminuição da ansiedade e do stress. Fernanda Lima, 24 anos, apresentadora da MTV, já está sentindo os bons efeitos da prática. Ela era adepta da malhação tradicional, mas sofria com dores e machucados constantes. Há sete meses resolveu conhecer a ioga e hoje é aluna do espaço Vidya. “Agora, durmo e me alimento melhor e tenho mais consciência do meu corpo”, conta. Outra que encontrou na prática o equilíbrio entre o prazer de malhar e a busca de paz foi a farmacêutica Gisele Hertzog da Silva, 26 anos, de São Paulo. Ela começou a fazer ioga há um ano e meio porque desejava algo que fosse além dos exercícios convencionais. “Passei por um momento difícil depois da morte de minha irmã. Precisava de força e a ioga me deu equilíbrio”, conta.

Porém, para promover esses benefícios, a ioga precisa ser ensinada por quem realmente entende. Os instrutores qualificados temem que o crescimento da prática esteja possibilitando o surgimento de profissionais que desejam se aproveitar do momento e pouco sabem a respeito do método. Tânia sugere que, antes de escolher um instrutor, os interessados façam aulas com professores e usando técnicas diferentes. “É preciso experimentar, até para ter condições de comparar e separar o que é sério”, explica. O instrutor Cristovão também aconselha cautela. “Deve-se ficar atento à postura do professor e certificar-se de que o método combina com você”, orienta. Para evitar problemas, a Confederação Nacional de Yoga e as federações estaduais estão lutando para regulamentar a profissão. “Essa é a melhor forma de controlar os profissionais e exigir um trabalho responsável”, entende Nina Holanda, presidente da Federação de Ioga do Estado de São Paulo.