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Reconhecido por sua grande capacidade de mutação, o vírus da gripe, o Influenza, sempre desafiou os cientistas a criar métodos mais eficazes para contê-lo. Sua supremacia, porém, está agora ameaçada pela descoberta de anticorpos capazes de agir em partes mais estáveis do vírus, que não conseguem mudar com tanta agilidade. Os achados foram anunciados nas últimas semanas por cientistas dos Estados Unidos e da Suíça. São os anticorpos FI6 e CR8020 – ambos provenientes de seres humanos, mas presentes apenas em uma parcela da população. O FI6 foi divulgado como o primeiro anticorpo capaz de atacar os 16 subtipos do Influenza A – responsável por quase todas as epidemias. Já o CR8020 em combinação com outro anticorpo, o CR6261, descoberto em 2009, deve ter ação semelhante à do FI6.

Nenhum dos métodos foi testado em humanos, mas as perspectivas são boas. Em especial para casos graves de infecção por Influenza A, como a gripe aviária (causada pelo vírus H5N1) ou a gripe suína (provocada pelo H1N1). “Em ratos, o FI6 mostrou-se capaz de neutralizar o vírus, limitar seu crescimento e atacar as células infectadas”, disse à ISTOÉ Antonio Lanzavecchia, diretor do Instituto para a Pesquisa em Biomedicina, da Suíça, e autor do trabalho.

O segredo dessas novas terapias está no modo como agem sobre o organismo. Os anticorpos em questão atacam uma parte estável da hemoglutinina, proteína presente no exterior da cápsula viral e responsável por ligar o vírus às células. Esse trecho sobre o qual agem sofre pouquíssimas mutações e é comum a vários tipos de Influenza.

Espera-se que a terapia seja usada tanto para tratar infectados graves quanto para, em momentos de epidemia, medicar a população. “Mas seria uma imunização temporária, pois simplesmente seria dado um anticorpo pronto para combater o vírus”, explica o médico Ralcyon Teixeira, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo. “O corpo não vai aprender a produzir essa proteção.” Para Damian Ekiert, um dos responsáveis pela descoberta do anticorpo CR8020, mais opções de combate à doença dão mais segurança. “As vacinas atuais não são 100% efetivas”, disse à ISTOÉ. “Pode haver falhas, particularmente em pessoas idosas, imunodeprimidos e crianças pequenas.”

Outro pesquisador do tema, o cien­tista Darren Miller, da Universidade de Adelaide, na Austrália, vê uma dificuldade nesse tipo de terapia: obter os anticorpos em grandes quantidades no caso de uma epidemia. “Produzi-los e administrá-los em escala global é complicado”, falou à ISTOÉ. Por isso, um dos planos da equipe de Lanzavecchia é formular uma vacina capaz de fazer o próprio corpo produzir o anticorpo FI6.  

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