O governo de Dilma Rousseff entra num grande momento de decisão e teste. Desde a eleição, a presidente contou com uma sólida base aliada de partidos e compôs com agilidade o seu ministério. Esses dois pilares da gestão estão abalados. No corpo ministerial, ao menos cinco titulares das pastas terão de se explicar no Congresso sobre atos que levantaram suspeitas. Outros três, no breve espaço de meses, foram abatidos. Nelson Jobim, o último deles, caiu por conta de uma incontinência verbal que superou todos os limites. Depreciou colegas de ministério, assumiu o voto no adversário de urna da chefe, José Serra, e ainda foi capaz de classifi car de “idiotas” aqueles com quem trabalhava. Antônio Palocci, o quase primeiro-ministro que também teve de sair, escorregou em meio a gastos pessoais vistosos e inexplicáveis. E Alfredo Nascimento, pilhado em fl agrante fazendo negociatas, foi forçado à demissão e quis dar o troco. Na semana passada, ocupou a tribuna do Senado para, entre ameaças veladas, dizer que a presidente não lhe concedeu o apoio que havia sido prometido e que o seu partido (PR) se considera credor de cargos e postos. Nascimento lidera agora uma mobilização com a cúpula partidária para romper com Dilma. E várias outras siglas que dão sustentação ao governo manifestaram incômodo com a “faxina” em curso e prometem reagir. Mero cacoete político de quem se acostumou com mandatários que lançavam afagos e faziam vista grossa aos desmandos. 

Muito embora represente a mais grave crise e dura prova de governabilidade de que se tem notícia na “era” Dilma, só resta à presidente seguir adiante na sua cruzada, estabelecendo um novo paradigma de transparência do Executivo. Caso recue, estará abrindo o fl anco para que a oposição cresça e use a tibieza da mandatária como arma eleitoral. Não é um bom caminho. A favor de Dilma conta o fato de que os três subordinados afastados eram da cota pessoal do antecessor Lula e foram herdados e mantidos nos postos para não contrariar o padrinho e mentor. Com argumentos de sobra para retirá-los, Dilma vai poder daqui para a frente dar novo rumo e prumo ao governo, moldando-o à sua imagem e semelhança.


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