A vida de repórter pode proporcionar experiências fascinantes e enriquecedoras, no sentido estrito da palavra. Por dever de ofício, se conhecem lindos lugares, pessoas interessantes e culturas diferentes. Foi o que experimentaram Luiza Villaméa e Carlos Magno quando viajaram para a região da fronteira entre Paraguai e Brasil para produzir a reportagem que mereceu destaque de capa nesta edição. Nossos repórteres foram visitar as terras do polêmico reverendo Moon, que, desde 1995, vem adquirindo fazendas na região, empenhado em construir uma réplica do paraíso. Em seis anos, sua organização comprou mais de 50 fazendas no lado brasileiro, que, somadas às que tem no Paraguai, totalizam uma imensidão de 833 mil hectares. E tudo isso vem deixando as autoridades preocupadas, pelo menos as brasileiras, que estão mobilizando o Exército e a Polícia Federal por considerar o projeto do reverendo Moon uma ameaça à soberania nacional.

Uma das propriedades percorridas pelos repórteres foi o Projeto Salobra, perto da cidade de Miranda, no Mato Grosso do Sul. É uma bela fazenda que, mesmo antes de ser adquirida pelo reverendo, já contava com uma das melhores infra-estruturas hoteleiras do Estado. É lá também o quartel-general de Kim Yoon Sang, o presidente Kim, apontado como o mais qualificado representante da seita Moon no Mercosul. Preocupado em mostrar o lado positivo da organização, o presidente Kim, uma pessoa interessante, fez questão de descer o rio Salobra com os repórteres, em uma de suas lanchas, até ultrapassar o encontro com o rio Miranda. Um lindo lugar. No meio da tarde, quando os jornalistas se preparavam para deixar o hotel-fazenda, o presidente Kim ofereceu, como simpática lembrança, uma camiseta do Projeto Salobra e uma caixa de chá de ginseng.

Duzentos e quatro quilômetros depois, quando Carlos Magno desfazia sua bagagem no Hotel Vale Verde, em Campo Grande, percebeu, estupefato, que junto com a camiseta havia um envelope com R$ 1.000, em notas de R$ 50. Após conversar com a direção de ISTOÉ, os repórteres tentaram em vão entrar em contato com o Projeto Salobra por telefone. Ligaram então para o representante legal da organização no Mato Grosso do Sul, advogado Neudir Simão Ferabolli. A ele foi relatado que, junto com o simpático mimo, viera o tal envelope com o dinheiro.

Também lhe foi dito que, para a revista ISTOÉ, tal atitude ou é uma ofensa ou é um engano. Como, no caso, preferíamos ficar com a segunda hipótese, seria necessário o número da conta bancária da organização, para que se pudesse providenciar a devolução do dinheiro e desfazer o engano. Como resposta ouviu-se primeiro uma risada. “Ah, fizeram isso com vocês? Sinto muito, não posso ajudar em nada”, respondeu o advogado. Sem as informações bancárias, os repórteres devolveram o dinheiro através do vale-postal dos Correios de número 681939737. Devido à taxa de serviço, o total do vale foi de R$ 1.020. Em seguida, foi enviado fax à propriedade contendo os mesmos termos da conversa com o advogado. Aproveite.


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