Na sexta-feira 14, o Brasil entrou para um seleto grupo – pelo menos na área da tecnologia destinada à cultura –, tornando-se o primeiro país da América do Sul a ter um cinema digital. O passo inicial rumo ao futuro foi dado em uma das 18 salas da rede Megaplex UCI, no New York Center City, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. Mas o que isto significa para o público? Antes de mais nada, filmes com melhor qualidade de som e alta definição de imagem. O novo processo aposenta de vez as velhas cópias em película de 35 milímetros, armazenadas em caixas de metal que pesavam sobretudo para os distribuidores. Agora, as fitas passam a ser guardadas em computadores e distribuídas via satélite.

Durante uma sessão especial, foi exibida uma seleção de trailers, todos com imagens digitalizadas, como o do esperado O senhor dos anéis – a sociedade do anel, de Peter Jackson, filme que será lançado em 1º de janeiro. É uma mudança radical, conforme o público poderá verificar em produções já rodadas no mesmo sistema. O ruinzinho Xuxa e os duendes (leia seção Em cartaz) é um deles. Entre os blockbusters o destaque é Star wars: episódio II – o ataque dos clones, com estréia prevista para junho de 2002, de George Lucas, que, como garantia da continuação do sucesso de sua saga, solicitou especialmente à Sony e à Panavision o desenvolvimento da nova tecnologia.

A revolução do sistema digital de projeção atinge público, distribuidores, produtores e exibidores. Estes últimos poderão mostrar eventos ao vivo, como jogos de futebol ou espetáculos culturais, a exemplo de óperas e balés. É uma empreitada nem um pouco barata. A UCI, por exemplo, investiu R$ 300 mil, amortizados pela parceria com a TeleImage, divisão de entretenimento do Grupo Casablanca, que assina o Casablanca Digital System, desenvolvido no Brasil. O Megaplex foi escolhido para inaugurar a novidade no Brasil por ser o maior complexo de cinemas da América do Sul, abrangendo 17.500 metros quadrados, e por já ter implantado sistemas semelhantes na Inglaterra e na Espanha. Hoje, existem 37 salas digitais nos Estados Unidos, sete na Europa e uma no México.

Para os produtores, as vantagens também são grandes, como atesta Diler Trindade, produtor de Xuxa e os duendes. “Simplificou o processo”, diz ele. Se, por um lado, o aluguel de duas das 50 câmaras HDTV 24 P existentes saiu por R$ 100 mil cada uma – R$ 30 mil acima do preço das comuns –, por outro economizaram-se R$ 150 mil nas películas e mais R$ 10 mil em todo o material de captação. Alex Pimentel, diretor técnico do Casablanca Digital System e da TeleImage, lembra que a digitalização ainda não significa o pendurar das chuteiras do sistema tradicional de produção. “Há roteiros que se adaptarão melhor às películas”, pondera Pimentel.