O PT nunca esteve tão liberal. Não
é de hoje que o petista Luiz Inácio Lula da Silva tenta despir-se da fantasia de radical. Ele aproveitou
o embalo pós-carnaval para livrar-se mais ainda da incômoda roupa.
Na Quarta-Feira de Cinzas, Lula desfilou de braços dados com o senador José Alencar, que, além
de ser do Partido Liberal de Minas Gerais, é o maior empresário da indústria têxtil do País, dono da Coteminas, cujo patrimônio líquido
é de R$ 933 milhões. No ano passado, Lula já havia arrepiado os cabelos das alas xiitas do partido ao trocar afagos com o PL, dando um passo
a mais na sua guinada para o centro. Até então, o petista ousava esticar
o elástico ideológico até o limite dos moderados do PMDB. Na sua quarta tentativa de conquistar o Planalto e em primeiro lugar nas pesquisas
de opinião, o pragmático Lula não está disposto a fazer mais concessões
ao público interno.

José Alencar está cotado para ocupar a vaga de vice, uma composição que amenizaria a imagem da chapa petista: seria a perfeita união do capital com o trabalho. Além do mais, o senador mineiro abriria para o PT as portas do segundo maior colégio eleitoral do país. “Se eu for escolhido na convenção do PT, em 17 de março, vou trabalhar para que o Alencar seja o vice-presidente na nossa chapa”, assumiu Lula na quarta-feira 13, referindo-se à disputa interna com o senador Eduardo Suplicy, que até agora ignorou todos os apelos da cúpula petista para que desista de postular a candidatura à Presidência. Numa defesa prévia do namoro,
Lula afirmou que o PL não é de direita e deu um recado indireto aos xiitas: “Os que têm preconceito e criticam o fato de o PL estar com a oposição não querem que o PT ganhe as eleições.” O último lance da novela foi a promessa feita pelos petistas de permitir ao PL participar
da elaboração do programa de governo do PT. “Se fizermos alianças políticas, esses aliados terão uma co-participação na elaboração do programa”, avisou Lula.

Na família dos noivos há resistências ao casamento. Da parte petista, os radicais rejeitam aliar-se com um partido que consideram de direita. Apesar de estar sendo costurado com o presidente nacional do PL, deputado federal Valdemar da Costa Neto (SP), o casamento não conta com o aval dos liberais ligados à Igreja Universal do Reino de Deus, que preferem apoiar o governador do Rio, Anthony Garotinho, também evangélico. Garotinho chegou a oferecer a vaga de vice na chapa do PSB para Alencar. Mas o próprio governador já admitiu que o PT tem mais chances do que o PSB de conquistar a disputada noiva. A união também provoca abalos sísmicos na Bahia, onde PT e PL são inimigos. Na disputa pelo governo baiano, o PL apóia o cacique Antônio Carlos Magalhães (PFL) e o PT, o deputado federal Jacques Wagner. Pelo jeito, mesmo depois do Carnaval, o PT vai ter que continuar rebolando para conquistar seu troféu.


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