Quanto vale um partido com seis milhões de filiados, diretórios em todos os municípios, mais de 11 mil vereadores, quase 2,3 mil prefeitos e vice-prefeitos, cinco governadores e a maior bancada no Congresso? A legenda oferece, ainda, seis minutos diários no rádio e na tevê para a propaganda eleitoral. Apesar da decisão tomada em setembro por quase 99% dos convencionais do partido, a cúpula do PMDB não quer lançar candidato próprio à sucessão presidencial. Contenta-se com o posto de vice do candidato do Planalto, o ministro da Saúde, José Serra (PSDB), ou aliar-se à governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL). Mas os maiores diretórios, como o de São Paulo, o de Minas Gerais, o de Goiás e o do Rio Grande do Sul não concordam com a tese. Já anunciaram que concorrerão à indicação como candidatos do partido à Presidência o governador de Minas, Itamar Franco, o senador Pedro Simon (RS) e o ministro da Reforma Agrária, Raul Jungmann. Em entrevista à ISTOÉ, um indignado Pedro Simon dá uma mostra de que será uma guerra sangrenta.

ISTOÉ – O PMDB terá ou não candidato a presidente?
Simon –
Tem gente que não conhece a história do partido, não viveu sua luta histórica nem seu passado extraordinário e está boicotando as decisões da convenção, que definiu por uma candidatura própria. Renan Calheiros (líder do PMDB no Senado) foi líder do governo Collor, rompeu com o ex-presidente e agora está com ele novamente. O Geddel (Vieira Lima, líder na Câmara) e seus familiares eram da Arena e, hoje no PMDB, querem mais cargos na Bahia. O Moreira Franco era da Arena e ninguém sabe como foi parar na Fundação Ulysses Guimarães. O Sarney já disse que seu partido é o da filha Roseana. Ele deveria se licenciar do PMDB para fazer campanha para o PFL.

ISTOÉ – Como o sr. analisa as declarações do Geddel Vieira Lima
de que prefere negociar o apoio ao candidato do governo agora porque o ministro José Serra está fraco nas pesquisas e paga
caro por apoio?

Simon –
Ele está barganhando cargos. Outro líder fala com a Roseana porque ela vem crescendo nas pesquisas. Isto é uma imoralidade, uma indecência. Isto reduz o PMDB à condição de legenda folclórica, ridícula, quase de aluguel.

ISTOÉ – Querem negociar o PMDB?
Simon –
Sim. Principalmente o tempo do partido, que é precioso, e a nossa estrutura com milhares de prefeitos, vereadores e diretórios em todos os municípios. Tudo em troca de vantagens.

ISTOÉ – Contra este boicote cabe um julgamento pelo
Conselho de Ética?

Simon –
Claro. Mas o comando do partido não vai reunir o Conselho. Proponho que na convenção de março se faça uma nova votação entre os convencionais para confirmar ou não a decisão do partido de lançar candidato próprio à Presidência. Se confirmada, os atuais dirigentes que discordam devem se afastar dos cargos que ocupam. O que não pode é o deputado Geddel ficar dando declarações contra a decisão partidária.
ISTOÉ – O partido pode se esfacelar depois da eleição?
Simon – Com candidato próprio, perdendo ou ganhando, sairemos das eleições como o maior partido. Sem candidato, o PMDB vai se dividir entre o apoio ao Serra, à Roseana, ao Lula, ao Garotinho ou ao Ciro Gomes. E se transformará num partido secundário.