A rede montada por antigos militantes de esquerda na América Latina para realizar sequestros em São Paulo é mais ampla do que a polícia imaginou quando libertou o publicitário Washington Olivetto. O chileno Mauricio Hernández Norambuena, preso com outros cinco sequestradores em Serra Negra (SP), não é o principal líder do grupo ligado à Frente Patriótica Manuel Rodrigues (FPMR), antigo braço armado do Partido Comunista Chileno. O chefe do grupo seria Galvarino Sergio Apablaza Guerra, 52 anos, conhecido como comandante Salvador. Ele não só teria participado do planejamento e acompanhamento do sequestro do publicitário como ainda estaria no Brasil, protegido por brasileiros. Apablaza nunca foi preso e os órgãos de informação do Chile achavam que ele estaria em Cuba. Na semana passada, ao confrontar o retrato-falado de um homem calvo, que usava óculos e bigode, visto por testemunhas no sobrado onde ficava o cativeiro de Olivetto, com uma fotografia encontrada num dos sete imóveis alugados pelo grupo em São Paulo, agentes chilenos que estão no Brasil tiveram a certeza de que se trata da mesma pessoa: Apablaza.

A Polícia Federal tem registro da presença dos chilenos da FPMR no Brasil desde 1999 e suspeita que nos últimos dois anos seus integrantes tenham participado de vários sequestros em São Paulo. A Divisão Anti-Sequestro (Deas) está fazendo um levantamento dos casos recentes ainda não solucionados, mas com indícios de participação de estrangeiros entre sequestradores brasileiros. Segundo análise compartilhada pelas polícias brasileiras, Interpol e órgãos de inteligência do Chile, a presença de ativistas do porte de Norambuena e Apablaza sugere a preparação de uma grande base de organizações guerrilheiras em São Paulo. Olivetto seria apenas o primeiro de uma lista de personalidades sequestráveis. Na quinta-feira 14, o site da FPMR divulgou que o sequestro de Olivetto seria “consequência de uma opção ideológica”. Se o dinheiro dos resgates seria utilizado para financiar a luta armada em países onde ainda há focos de guerrilha ou se serviria para benefício próprio dos criminosos é uma questão secundária para a polícia.

O desafio, agora, é descobrir quem são os brasileiros que deram apoio ao grupo. “Essa rede não se sustentaria sem o apoio de brasileiros”, diz um policial que participa das investigações. Já há indícios de que pelo menos duas brasileiras participaram do sequestro de Olivetto. Uma delas, clara, de estatura mediana, cerca de 30 anos, cabelo curto, rosto redondo, foi vista no cativeiro. A outra é a sempre lembrada Maria Ivone Braeckmann, uma gaúcha que teria participado também dos sequestros do publicitário Luiz Salles e do empresário Abílio Diniz, ocorridos em 1989, e do publicitário Geraldo Alonso, em 1993. No caso Olivetto, Maria Ivone (o nome é falso) teria contratado moto-boys para enviar à família um bilhete, um buquê de flores e o relógio do publicitário.

Até agora só foram presos seis sequestradores, mas o promotor Marco Antônio Ferreira Lima, na quinta-feira 14, formalizou denúncia contra oito, incluindo na ação penal dois homens que a polícia identificou no decorrer das investigações. São eles: Pablo Muñoz Hoffman, 32 anos, e Raúl Julio Escobar Poblete, 39. Os dois são ligados à FPMR e são acusados de participar da falsa blitz policial, montada para apanhar Olivetto. A Deas identificou um outro chileno que pertenceria ao grupo: Luis Alberto Moreno Correa, de 36 anos, conhecido por Vietnamita.