Discos
A gíria é cultura do povo

Com Bezerra da Silva (Atração) – Vindo do Recife, o futuro pagodeiro chegou ao Rio de Janeiro ainda menino e só foi descobrir que seu destino era a música depois de viver da malandragem à mendicância. Durante toda a carreira, iniciada em 1970, Bezerra usou da experiência de vida para fazer um dos grandes motes de seu trabalho. Neste seu 27º disco, porém, o menestrel do submundo amenizou os temas da bandidagem. Também fez um álbum de samba sem as modernidades a que costumava recorrer. Apoiado no ritmo, na mulher – cujo pseudônimo é Regina do Bezerra –, nos cavacos de Marcio Almeida e nos violões de Jorge Simas, o cantor e compositor discorre sobre a rivalidade entre morros, desta vez sem muitos cadáveres, mas com muitas facas voando. Nas histórias mais suaves, Bezerra segue cantando sua paixão pelo Flamengo e pela Mangueira. Ainda louva a amizade e reclama das mulheres, todas infiéis, cruéis, desalmadas mas muito amadas. O que dá sabor às rimas, no entanto, é o palavreado enviesado que o velho malandro emprega. Afinal, se a gíria é a cultura do povo, Bezerra é o decifrador de hieróglifos do morro. (Luiz Chagas)
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Livros
Contos mínimos

Record, 128 págs., R$ 15 – Ao concordar em escrever um conto por semana para a revista Domingo, do Jornal do Brasil, Heloisa Seixas
sabia que teria uma dura empreitada pela frente. Poderia cair na
crônica, que está para o conto como a pirita para o ouro puro. Não
foi o que aconteceu. Seus trabalhos agora reunidos em livro e reordenados em tópicos revelam textos claros e contundentes, bem adequados ao gênero. A história-título traz a idéia machadiana do
bilhete do suicida, falando de mensagens rabiscadas por passageiros
de um avião em queda, antes do choque fatal. Ao longo do tópico Assombrações, ela trai a admiração por escritores fantásticos, como Ambrose Bierce, cujos contos selecionou e traduziu. E em outras
seções expele imagens espetaculares e humor sarcástico,
características almejadas por todo bom escritor. (Luiz Chagas)
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DVD
Play – the DVD

Com Moby (Sum Records) – Apreciadores do som eletrônico do americano Moby vão ter razões de sobra para adquirir esta verdadeira peça de colecionador. Além do CD-brinde, com 18 remixes, a opção The videos traz os dez clipes feitos para a divulgação do excelente álbum Play, de 2000, dirigidos por feras como David La Chapelle e Jonas Akerland. Um dos destaques é o absurdo Bodyrock, que mostra testes de anônimos em danças para lá de malucas. Os bastidores da sua mais recente turnê também foram documentados de forma inusual e podem ser vistos na opção Give an idiot a camcorder, em que Moby dá entrevistas para si próprio e brinca com os sotaques de franceses e alemães. O melhor, contudo, é o pequeno show para o programa Jools Holland, da BBC inglesa. Acompanhado de baixo, bateria, violinos, cello e vocalistas e revezando teclados com guitarra, ele interpreta sucessos como Natural blues e Go, calando os detratores ao executar ao vivo tudo o que no disco era sampleado de outros artistas. (Ivan Claudio)
Assista até o fim