Lançar três discos no espaço de 13 meses não é para qualquer banda de rock. Este prodígio pertence ao quinteto inglês Radiohead, cujo mais recente trabalho I might be wrong: live recordings acaba de chegar às lojas. Os apressados poderão argumentar que não existe grande mérito num disco ao vivo, feito de material recente. Mas, em se tratando do Radiohead, pode-se descartar o truque do caça-níqueis destinado a fãs que consomem qualquer coisa de seus ídolos. Mesmo porque a turma do torturado Thom
Yorke praticamente voltou as costas para seu público ao deixar sua música ainda mais estranha e experimental nos álbuns Kid A (2000)
e Amnesiac (2001), depois da consagração nos anos 90 com o extraordinário Ok computer. O novo trabalho reúne gravações de
quatro shows diferentes, realizados no ano passado. Há apenas uma
faixa inédita, a belíssima True love waits, que acena para outra guinada musical ao introduzir violões límpidos.

Não bastasse ser o primeiro registro dos espetáculos da banda, I might be wrong prova que o Radiohead é tão bom diante das platéias quanto encerrado nos estúdios. Em Kid A e Amnesiac, o quinteto havia forjado sonoridades inéditas, fruto da mistura do chamado intelligent techno com rock e jazz acústico. Eram discos que exigiam muitas audições para se descobrir lentamente a proposta musical. A mesma química ouve-se ao vivo num repertório tirado dos dois últimos CDs. Os destaques vão para as canções Idioteque e Like spinning plates, que ganharam mais energia roqueira sem perder aquela atmosfera musical gelada em permanente contradição com a voz apaixonada de Thom Yorke. Junto ao lançamento também chega uma boa notícia: o Radiohead está cotado para se apresentar no Brasil ainda este ano. Enquanto não desembarca, nada melhor que este ótimo petisco.


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