Lobão, aquele que vive na eterna trincheira contra a indústria fonográfica, acaba de lançar um disco ao vivo com velhos sucessos. Justamente ele que sempre criticou o formato. Não importa. Lobão 2001 – uma odisséia no universo paralelo, vendido a módicos R$ 11,90 nas melhores bancas de jornais, vem redimir qualquer contradição. É um disco tão potente quanto os petardos de seu autor. Um ajuste de contas do cantor, compositor e multiinstrumentista carioca com o gênero que ele renega, mas nunca abandona: o rock’n’roll catártico, sujo, furioso. O resto é blá-blá-blá de quem diz que ele está cantando cada vez pior. Lobão está gritando cada vez melhor, porque nunca foi um Tony Bennett. E haja fôlego para emendar um projétil atrás do outro. Ele, Marcelo Granja (baixo) e Alexandre Fonseca (bateria, percussão eletrônica e samplers) formam um trio que faz jus à mais digna e heróica formação do rock. Aquela em que três músicos produzem um barulho dos infernos.

O Grande Lobo nem lista tantos sucessos assim. Em arranjos pesadões despontam Decadence avec elegance e Noite e dia, emendada a uma versão debochada das clássicas Me chama e Rádio bla. Para o final, ele reservou Vida bandida, apresentada como “um sambinha em homenagem a João Gilberto”. Na verdade, é um arrastão apoteótico de distorções. Tirando as faixas populares, encontram-se outras ótimas composições exiladas do rádio e portanto pouco conhecidas, como a apocalíptica A vida é doce, do disco de mesmo nome, igualmente lançado em bancas de jornal, em 1999. Há também inéditas: Lullaby, canção romântica às avessas, na verdade um pesadelo de imagens tristes, e o rap Mano Caetano, uma resposta ao Rei Sol da MPB, com uma letra tão brilhante que já pode ser colocada entre os momentos mais inspirados do universo pop tupiniquim.