A posse de Luiz Inácio Lula da Silva já produziu mudanças inimagináveis num país como o Brasil. Pelo menos do ponto de vista dos ritos do
poder. A foto de Leopoldo Silva que emoldura a capa desta edição
é uma prova. Outra é o registro abaixo, de autoria de Max G Pinto.
Tanto o povo como a elite mudaram de comportamento. A multidão que lotou a Esplanada dos Ministérios na quarta-feira, primeiro de janeiro, cantou, dançou e se emocionou com a chegada de um trabalhador
ao Palácio do Planalto. Foi uma bagunça cívica. Os convidados que congestionaram os salões nobres também saíram da linha. O povo se banhava no lago do Congresso, mas ricos e famosos também perdiam
a compostura. Nunca uma solenidade de posse foi tão animada, descontraída e desorganizada. A palavra de ordem parecia ser abaixo
o protocolo. Para desespero dos rapazes e moças do Itamaraty que tentavam estabelecer alguma organização na casa bagunçada.

A foto de Max é do momento em que Lula e Fernando Henrique protagonizavam a histórica troca da faixa presidencial. Políticos, empresários, artistas, jornalistas, funcionários brigavam em
pé de igualdade por um lugar onde fosse possível acompanhar
a festa. A mudança também era feita ali. Longe de qualquer luta
de classes , o empresário Eugênio Staub e uma copeira do Palácio disputavam democraticamente uma brecha para ver a história passar. Socialites e homens de negócios subiam nas cadeiras, enquanto
o presidente dava posse aos novos ministros. Muitos munidos de máquinas fotográficas. Artistas como Djavan, Fernanda Abreu, Camila Pitanga eram assediados sem cerimônia. E os ministros continuavam sendo chamados. Antes dos abraços calorosos em Lula, tinham
de passar por uma espécie de palmômetro: os campeões foram
a doce Marina Silva e o poderoso José Dirceu.

Nos primeiros momentos da nova ordem há uma constatação:
está tudo mais informal. Mas isso só quer dizer isso. Em nenhum
lugar está escrito que um estilo descontraído garanta mais eficiência
que a formalidade dos punhos de renda dos embaixadores ou o distanciamento crítico dos doutores da USP. A multidão que se divertiu em Brasília com suas bandeiras vermelhas num clima de paz e amor
voltou para seus Estados com a esperança renovada. Agora é com
o governo. Já que a capacidade de transformar a lua-de-mel em um casamento sem crises vai depender da retomada do crescimento econômico e da radical mudança no quadro social do País.


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