Foram 25 longos minutos para decolar do aeroporto de Brasília. Não era nenhuma represália da Aeronáutica, mas o intenso tráfego aéreo local. Finalmente, às 19h26 do dia 1º o Boeing 737 da Presidência da República partiu rumo a São Paulo levando o ex-presidente Fernando Henrique e dona Ruth Cardoso de volta para casa. O último dia de FHC na Presidência estava terminando. O grand finale ficou para as 23h55, quando um Airbus da TAM decolou rumo a Paris. Lá, em um apartamento da Avenue Foch, de propriedade do amigo e sócio Jovelino Mineiro, o sociólogo Fernando Henrique e a antropóloga Ruth passarão pelo menos dois meses de férias. “Vou descansar”, afirmou.

O dia que encerrou oito anos de governo de FHC teve de tudo. De manhã, ele se despediu das águas tépidas da piscina do Palácio da Alvorada, dando uma última nadada. “Sentirei muita saudade dessa piscina”, comentou. Mais tarde, enfrentou uma maratona de cumprimentos de diplomatas e integrantes das 132 delegações estrangeiras que vieram prestigiar a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. Uma espécie de aquecimento para os eventos da tarde. No gabinete
que ocupou por dois mandatos consecutivos, FHC viveu o último momento de descontração antes da cerimônia de passagem da faixa presidencial. Junto com dona Ruth, ele recebeu as famílias de Lula
e do vice, José de Alencar, como manda o protocolo. Mas, diante
dos netos de Lula, Maria Beatriz, seis anos, e Thiago, cinco, FHC exercitou seu lado avô. Rindo muito, ele colocou os netos de
Lula na cadeira presidencial, descontraindo o ambiente.

Daí para a frente, foi uma sucessão de emoções. Ao colocar a faixa presidencial pela última vez, quase chorou. Depois, não disfarçou a satisfação em receber Lula na rampa do Planalto, tomando a iniciativa
de abraçá-lo. “Parabéns, parabéns”, falou emocionado e alegre para
Lula. A resposta, durante o demorado abraço, foi no mesmo tom:
“Você tem um amigo aqui”, disse Lula. Terminada a sua parte na solenidade, Fernando Henrique, já ex-presidente, seguiu de carro
para a Base Aérea, onde os ministros e quase 200 ex-auxiliares o aguardavam com líderes do PSDB. Esta festa íntima foi o último toque
de classe de FHC no processo que começou com a transição. Alguns tucanos, como os deputados José Aníbal e Arthur Virgílio, queriam mudar o protocolo e fazer uma encenação na saída, descendo a rampa do Planalto com ele. A iniciativa foi abortada pelo presidente. “A festa
é do Lula”, disse, encerrando a discussão. Na Base Aérea, onde os convidados assistiram às comemorações em seis tevês instaladas no salão nobre, FHC se despediu dizendo que dava um “até breve, mas um até breve feliz”. E seguiu para o popular “Sucatinha”, recebendo, pela última vez, honras militares de presidente. A Era FHC tinha terminado.