O povo que parou para ver Lula passar e se tornar presidente da República queria algo mais: ver Fidel Castro de perto. O presidente de Cuba foi ovacionado pela multidão que lotava a Esplanada dos Ministérios. Como num megaespetáculo, o povo “chamava” o líder socialista da mesma forma que solicita a atenção de um pop star: “Fidel, cadê você, eu vim aqui só pra te ver.” Em retribuição, o carismático comandante, que trocou o uniforme militar e o coturno por um terno negro e tênis confortáveis, retribuía à saudação com acenos, beijos
e com o L feito com os dedos polegar e o indicador da mão esquerda, símbolo da campanha de Lula. Mas o cubano não roubou a cena
apenas do lado de fora. No Congresso, Fidel foi disputado por parlamentares, independentemente da matiz ideológica, que queriam aparecer ao lado do líder. O senador Antônio Carlos Magalhães, que
já o recebeu na Bahia em duas ocasiões, foi um deles. Fez questão
de ser fotografado ao lado do chefe de Estado cubano.

A presença de Fidel, que está com 76 anos, é tão forte que até no momento em que ele decidiu prestigiar um amigo, na quinta-feira 2, acabou roubando a cena. O ministro da Educação, Cristóvam Buarque, bem que caprichou na emoção do discurso feito para cerca de mil pessoas, mas a exuberância do professor não foi suficiente para
garantir-lhe o monopólio das atenções. O brilho de Cristóvam foi
ofuscado pela aura mítica do cubano. Ele foi longamente aplaudido ao chegar e ao ser citado no discurso de Cristóvam. Causou verdadeiro
furor ao deixar a solenidade. Apesar de não ter dito uma palavra sequer ao público, não desapontou os presentes. O rígido esquema de segurança, não o impediu de parar em frente ao carro e acenar para
os admiradores. Homens e mulheres de todas as idades comemoravam
o fato de ter visto de perto o ídolo da revolução socialista cubana.

A grande estrela em Brasília foi mesmo Fidel. Durante os dias em que
ficou na capital federal, o líder cubano atraiu para si as atenções. No Congresso, durante a cerimônia de posse de Lula e José Alencar, ficou
ao lado do chefe da Casa Civil, José Dirceu, com quem conversou longamente ao pé do ouvido. Conhecido pelos seus extensos discursos
na praça da Revolução, teria sido Fidel o responsável pelo atraso na agenda do primeiro dia de trabalho do presidente Lula. Foi por causa de uma demorada troca de idéias durante o jantar do dia 1º – que se estendeu até as quatro horas da manhã do dia 2 – que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, se atrasou para o café da manhã com Lula. O venezuelano, por sinal, esforça-se para transformar-se em discípulo do cubano. Cultiva cada vez mais a mesma retórica, mas está longe do conteúdo e do carisma de Fidel. Durante entrevista coletiva em que prometera comentar a conversa com Lula, Chávez falou mais de duas horas para dizer que havia solicitado a compra de mais gasolina, que espera ainda o apoio de técnicos da Petrobras para melhorar o desempenho da empresa venezuelana de petróleo (PDVSA) e planeja
criar uma empresa latino-americana de petróleo, a PetroAmérica.