Todos aqueles que estavam sentindo falta de sons de pezinhos peludos ecoando pelas salas de cinema podem ficar tranquilos. Liderados por Frodo Bolseiro (Elijah Wood), os hobbits, criaturas míticas, baixinhas e de pés cobertos de pêlos, estão de volta em O senhor dos anéis – as duas torres (The lord of the rings: the two towers, Estados Unidos/Nova Zelândia, 2002). O filme que está em cartaz nacional é a versão para as telas
do segundo livro da trilogia criada pelo sul-africano de origem inglesa J.R.R. Tolkien (1892-1973), nos
anos 50, que conquistou milhões de adeptos ao redor do planeta. Juntamente com os hobbits, a história também traz elfos, orcs (seres deformados), wargs (misturas de urso, lobo e hiena), ents (guardiões
da floresta), olifantes (animais enormes que só morrem se atingidos
no olho) e prosaicos feiticeiros e anões, todos habitantes da Terra-média, um universo completo, com geografia, idioma e costumes
próprios, surgido da imaginação prodigiosa de Tolkien.

A saga inventada pelo sisudo ex-professor de linguística se resume
na luta pela posse de um anel mágico, há séculos arrebatado de
Sauron, entidade maléfica e imortal. Para melhor digerir a trama,
vale lembrar que o anel por si só é poderoso, e quem o possui – no momento Frodo Bolseiro – acaba sendo dominado por ele. No primeiro episódio, O senhor dos anéis – a sociedade do anel, lançado em 2001,
o artefato mágico surge na aldeia hobbit após passar mais de 500
anos nas mãos de Gollum, um ser repelente criado digitalmente
a partir dos movimentos e das expressões do ator Andy Serkis.

Força – Na verdade, Gollum era
o hobbit Sméagol, que teve sua
vida prolongada e devastada pela força do anel. Sabedor do perigo que todos correm, o mago Gandalf (Ian McKellen) chega à aldeia para avisar que o espírito de Sauron despertou e clama pela posse da jóia. A única saída é a destruição
do anel, o que só pode ser feito nas chamas que ardem na montanha habitada pelo vilão. Para conseguir tal feito é criada a sociedade do anel, composta por Bolseiro e humanos como Aragorn (Viggo Mortensen), o elfo arqueiro Legolas (Orlando
Bloom) e os hobbits Merry (Dominic Monaghan), Pippin (Billy Boyd)
e Sam (Sean Astin), além do mago Gandalf, que é tragado pelo mal. Neste segundo episódio, a ameaça concretizou-se. A Terra-média encontra-se à mercê das torres do título. São elas a Fortaleza de
Sauron e a Torre Orthanc, erigida na terra de Saruman (Christopher
Lee), um mago como Gandalf, mas voltado para o mal.

Normalmente, segundos e terceiros episódios constituem uma prova
de fogo para qualquer diretor. Mas
o neozelandês Peter Jackson se
deu bem. Apesar que é bom avisar: à exceção dos “associados” do
clube tolkeniano, só quem assistiu ao primeiro episódio talvez entenda e se divirta mais no segundo,
que supera em emoção e fantasia. Na sua empreitada, Jackson
provou ser um estrategista de primeira ao ousar filmar os três episódios ao mesmo tempo. O senhor dos anéis – o retorno do rei deve estrear
em dezembro de 2003, depois do sucesso de A sociedade do anel,
que atraiu 4,6 milhões de espectadores aos cinemas brasileiros e no mundo rendeu mais de US$ 860 milhões, quase três vezes o custo
total da produção. Indicado para 13 Oscar, o filme arrebatou quatro estatuetas, uma delas a de efeitos especiais para Richard Taylor.
O prêmio coroou os esforços da WETA Digital, firma criada por Jackson, que desenvolve seus próprios softwares, a exemplo da Industrial Light
& Magic de George Lucas. Em As duas torres, as atenções recaem
sobre duas criações da WETA, além de Sauron. São elas o citado
Gollum, a mais crível das duas criaturas, e Barbávore, habitante
da Floresta Fangorn, na verdade uma árvore que fala e anda.

Vilão – Para aliviar tanta maldade, Jackson pinçou a elfa Arwen (Liv Tyler) do episódio anterior – fugindo um pouco do texto de Tolkien – e a colocou para disputar as atenções de Aragorn com a humana Éowyn (Miranda Otto). E para dar mais emoção, criou um outro vilão, Gríma Língua de Cobra (Brad Dourif), e usou e abusou do software Massive da WETA, capaz de precisar movimentos individualizados em verdadeiras multidões de guerreiros. O resultado é soberbo. Jackson empregou bem os 18 meses de filmagens, que contaram nos momentos de pico com cerca de 200 pessoas na produção e mais de 700 atores diante das câmeras. Elijah Wood e alguns de seus colegas foram chamados para acrescentar uma tomada ou outra. O senhor dos anéis – as duas torres estreou em 18 de dezembro nos Estados Unidos sob a aclamação da crítica e do público, deixando Peter Jackson livre para cuidar do terceiro episódio, que mais uma vez consumirá milhares de pés peludinhos de hobbits. Cada par dura apenas dois dias de filmagem.