Entre os estrangeiros que desvendaram as entranhas do Brasil, um nome importante ficou relegado ao anonimato. É o de Charles Frederick Hartt, geólogo americano que morreu de febre amarela, solitário, aos 38 anos, no Rio de Janeiro. Hartt dirigiu a Comissão Geológica do Império, responsável pelo primeiro mapeamento da geologia brasileira, e, em 1870, escreveu um compêndio sobre o tema: Geologia e geografia física do Brasil. Sua vida e obra foram agora resgatadas pelo professor de literatura mineiro Marcus Vinícius de Freitas no livro Hartt: expedições pelo Brasil imperial (R$ 85, ed. Metalivros) que reúne um rico e inédito material iconográfico do País.

Em cinco expedições, entre 1865 e 1878, Hartt recolheu amostras da fauna e da flora, atuou como linguista, etnógrafo, desenhista e músico. Na última viagem, coletou mais de 500 mil espécimes, a maior parte amontoadas no Museu Nacional do Rio. Também preencheu mais de 300 fichas sobre o idioma indígena tupi, arquivadas na Biblioteca Nacional do Rio. Os trabalhos da Comissão Geológica do Império começaram em 1875, e tiveram a participação do fotógrafo brasileiro Marc Ferrez. Ele deixou um valioso material dos locais pesquisados. Entre eles, a cachoeira de Paulo Afonso, na Bahia. Com a construção de uma hidrelétrica na região, ela tornou-se sazonal e só aparece quando há excesso de água nos reservatórios. A Comissão foi encerrada em 1877, depois que o imperador dom Pedro II viajou ao Exterior. Nesse mesmo período, Hartt foi abandonado pela mulher, Lucy, e pelo casal de filhos, já cansados da obstinação do naturalista pelo Brasil. O geólogo contraiu febre amarela e morreu como mártir da ciência. “Sucumbir de uma febre tropical em um país longínquo equivalia à morte por álcool ou tédio do poeta romântico”, compara Marcus Vinícius.