Em campanha para a Presidência da República, o governador de Minas, Itamar Franco (PMDB), fez questão de anunciar oficialmente, no início da noite da terça-feira 5, a elucidação do caso do promotor Francisco José Lins do Rêgo Santos, 43 anos, assassinado em 25 de janeiro, em Belo Horizonte. O soldado Edson de Souza Nogueira confessou ter disparado os tiros que mataram o promotor com a ajuda do empresário Luciano Farah – mandante e co-autor do crime.

Era Farah – proprietário da Rede West de postos de combustíveis – quem dirigia a motocicleta que emparelhou com o carro de Francisco. “Tirei a pistola da cintura, fechei os olhos e atirei quando ele mandou”, revelou o soldado. A cena foi rápida, mas teve várias testemunhas. Depois do crime, o empresário levou a moto para uma oficina, dizendo que estava com defeito mecânico. O soldado, que fazia segurança particular nos postos do empresário, estava na PM há nove anos e recebeu de Farah a promessa de ser bem recompensado pelo crime.

O assassinato foi uma vingança do empresário. O promotor vinha montando um cerco à máfia que vende combustível adulterado no Estado. Entre os investigados, estavam cinco postos da Rede West, interditados em setembro do ano passado. Na época, o empresário chegou a ameaçar o promotor, que acompanhou pessoalmente o fechamento dos estabelecimentos. Em outubro de 2000, ISTOÉ denunciou, em duas reportagens de capa, as máfias do combustível existentes no País.

Confissão – O empresário Luciano Farah, preso na sexta-feira 1º, se recusou a depor na Polícia Civil. No entanto, admitiu informalmente, para a Polícia Federal, ser o mandante e o co-autor do assassinato. Até agora, oficialmente, o empresário Luciano Farah mantém firme a posição de falar somente em juízo. De qualquer modo, o delegado Wagner Pinto, que preside o inquérito, é taxativo: “Mesmo que ele não confesse formalmente, já temos provas suficientes que comprovam o seu envolvimento na morte do promotor.”

Provas contra o empresário, no entanto, não faltam. A polícia apreendeu com Geraldo Roberto Barreiras, office-boy da Rede West, anotações sobre a rotina do promotor e da fiscal do Procon Silvana Salum, braço direito de Francisco na Promotoria de Defesa do Consumidor. A fiscal, segundo depoimento do office-boy, seria a próxima vítima de Farah. Uma semana depois da morte do procurador, ela também seria executada. Teve melhor sorte. A repercussão nacional da morte do promotor fez o empresário recuar. O office-boy também contou que acompanhou por vários dias a rotina do promotor e da fiscal.

Prisão – Outra funcionária da Rede West também está detida e com prisão temporária decretada. Nilza Ana Rezende Santos foi presa na segunda-feira, pela Polícia Federal, no Big Posto, em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte. Na ocasião, a PF apreendeu documentos, computador e armas. “O material será avaliado por peritos”, disse o delegado Cláudio Dornelas. O irmão de Luciano, Cristiano Farah, também preso na sexta-feira, foi ouvido, na tarde da quarta-feira 6, durante cinco horas na Polícia Civil. Após o depoimento, o empresário foi liberado. “Não encontramos provas do seu envolvimento na morte do promotor. Ele estava trabalhando na hora dos fatos”, disse o delegado Wagner Pinto. Fiscais da Agência Nacional do Petróleo interditaram na tarde da segunda-feira 4 um posto da Rede West por venda de combustível adulterado. Testes comprovaram a presença de solvente na gasolina comercializada.

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