Menos de 48 horas depois de o publicitário Washington Olivetto ser sequestrado, a polícia paulista deixava transparecer uma insatisfação. Extra-oficialmente, delegados reclamavam do comportamento da família do sequestrado, que estaria afastando a polícia das negociações e permitindo que todo o processo fosse conduzido pela Control Risks, uma empresa inglesa especializada no gerenciamento de crises e segurança empresarial. O secretário de Segurança chegou a recomendar que não se contrate empresas como essa, sob o risco de se tornar sequestrável vip. Na quarta-feira 6, ISTOÉ esteve com James Wygand, responsável pelo escritório da Control Risks no Brasil, que atende também a clientes da Argentina, do Paraguai, Uruguai e Chile. Discreto, ele se recusa a contar detalhes sobre o sequestro do publicitário, mas rebate com veemência as críticas feitas pela polícia. “Não negociamos com sequestradores e sempre recomendamos que as autoridades públicas sejam notificadas em casos de sequestro”, diz. Segundo ele, é falsa a imagem de que a empresa funcione como uma espécie de serviço secreto, com agentes infiltrados no mundo do crime ou nos negócios de Estado. “A empresa nasceu em 1975, fundada por ex-oficiais do Exército britânico com experiência na luta antiterrorismo, mas evoluiu e hoje é especializada em gerenciar riscos empresariais e em ajudar empresários a se precaverem contra crimes urbanos como roubo de carga e outros incidentes”, explica.

A Control Risks está presente em 12 países, emprega cerca de 500 pessoas e no ano passado faturou US$ 50 milhões. Chegou ao Brasil em 1996. Emprega 12 pessoas fixas e conta com mais 20 colaboradores eventuais. No ano passado, o escritório localizado na zona sul de São Paulo faturou US$ 2,5 milhões. “No Brasil, 60% do trabalho se refere a empresários interessados em firmar parcerias e que precisam saber mais sobre os parceiros e a margem de risco dos negócios que irão tocar”, afirma. A seguir, trechos da entrevista de Wygand.

ISTOÉ – Qual foi a participação da Control Risks no caso do sequestro do publicitário Washington Olivetto?
James Wygand –
Por uma questão de ética, nossa companhia
nunca comenta sobre nenhum sequestro, estejamos ou não
trabalhando no caso.

ISTOÉ – Mas toda a imprensa publicou que vocês participaram das negociações com os sequestradores. A própria polícia de São Paulo diz que foi afastada das negociações e chegou a censurar a participação de empresas estrangeiras nos casos de sequestro.
James –
Existe muita confusão nisso tudo. Muita coisa errada foi dita. Nós não fazemos negociação com sequestradores. Além disso, em todo o mundo a nossa orientação é para que as famílias comuniquem às autoridades públicas responsáveis sempre que há a confirmação de um sequestro. Já largamos alguns casos quando as famílias se recusam a avisar a polícia sobre o crime.

ISTOÉ – Qual é, então, o trabalho da Control Risks nos casos de sequestro?
James –
Veja bem. É preciso deixar muito claro que, em primeiro lugar, nós não fazemos seguros. Somos, sim, indicados por várias seguradoras para que possamos ajudar o segurado no sentido de orientar a melhor maneira de ele se proteger. Quando há efetivamente um sequestro, nosso papel é o de administrar a situação de crise vivida tanto na empresa do sequestrado como na família. Tentamos, dentro do possível, fazer com que as coisas continuem caminhando normalmente durante o período em que a pessoa sequestrada estiver afastada.

ISTOÉ – Como é que se faz isso?
James
– Temos gente especializada na Inglaterra que se desloca para os lugares onde há a crise. Nas empresas, fazemos um diagnóstico da situação, verificamos quais os projetos em andamento e o papel do sequestrado no encaminhamento desses negócios. Depois de uma análise minuciosa, sugerimos formas de gestões alternativas e acompanhamos dia a dia o trabalho da empresa.

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ISTOÉ – E com relação à família?
James –
Fazemos um levantamento de tudo o que é possível. Ouvimos testemunhas do sequestro em si para saber a forma de abordagem, analisamos a forma de contato feita pelos sequestradores, a maneira que eles negociam e com esses dados tentamos identificar o grupo que praticou o sequestro, pois temos um grande arquivo feito a partir dos diversos casos em que trabalhamos no mundo todo. Feito esse diagnóstico, podemos aconselhar a família sobre a melhor forma de agir. Podemos, por exemplo, dizer que os contatos levarão muito tempo para ser feitos ou não. Podemos até arriscar dizer se a vítima está ou não sendo maltratada. É claro que em sequestro cada caso é um caso, mas esses são elementos importantes para a condução da negociação e também para que a rotina daquela família seja o mais normal possível.

ISTOÉ – Conte mais detalhes.
James –
Não posso dar mais detalhes. Isso seria abrir o nosso modo de operar e dar o mapa aos bandidos, o que só prejudicaria nossos clientes.

ISTOÉ – Evidentemente, esse arquivo a que o senhor se referiu é importante para que a polícia possa chegar aos sequestradores. Essas informações são passadas aos policiais?
James –
Sim. Se eles pedirem, podem ter acesso ao nosso arquivo.

ISTOÉ – E eles pedem?
James –
Em alguns casos, sim. Veja bem, nosso trabalho é diferente do trabalho da polícia. Nosso interesse é manter os negócios do sequestrado em andamento e tentar ajudar a família a recuperar o seu ente querido. A polícia tem uma missão diferente. Ela tem que recuperar o sequestrado e prender os sequestradores.

ISTOÉ – Quem aciona a Control Risks? A família do sequestrado
ou as seguradoras?

James –
Cada caso é um caso, mas muitas vezes somos chamados
pelas seguradoras.


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