Democratizar o esporte e usá-lo como ferramenta para formar pessoas conscientes de seus direitos e deveres é o objetivo do Centro Rexona de Vôlei. A iniciativa, que é uma parceria da Unilever do Brasil, através da marca Rexona, com o governo do Paraná, foi lançada em fevereiro de 1997. Com sede em Curitiba, o projeto já beneficiou dez mil crianças e jovens de escolas públicas, sem condições de acesso a clubes e academias. Atualmente, o Rexona mantém 22 núcleos em 18 cidades paranaenses e três em São Paulo e atende quatro mil crianças, na faixa etária de seis a 14 anos. Durante o aprendizado, elas contam com professores especializados e coordenados pelo técnico Bernardinho, da seleção brasileira masculina de vôlei, e por Ana Moser. “A prática esportiva desenvolve valores éticos, morais e de cidadania”, afirma a ex-jogadora. “É uma ferramenta de educação que tem força para interagir entre as pessoas.”

Em Heliópolis – a maior favela de São Paulo, com 100 mil habitantes –, o Núcleo Rexona funciona desde o ano passado e oferece aula duas vezes por semana para 420 crianças. O número de interessados é grande. “Todos querem participar. Mas o espaço ainda é pequeno e não cabe todo mundo”, explica Sueli Barbosa dos Santos, presidente da Sociedade Amigos e Moradores de Heliópolis. Segundo ela, 80% dos pais acompanham o rendimento dos filhos.

“Eu quero ser um Ricardinho do vôlei. Me imagino jogando na seleção, nem tanto pelo dinheiro mas pela alegria de poder vestir a camisa do Brasil”, sonha Wagner Moreira da Silva, 14 anos. Filho de um motorista de caminhão, ele reconhece a importância da iniciativa para a comunidade. “Um programa assim nos afasta das más companhias e ensina como ser gente na vida.” A descontração também conta. “O vôlei é o meu único lazer. Não tenho outra coisa a fazer em Heliópolis”, afirma Fabiano Lima, estudante da 5ª série. Cíntia de Paula, por sua vez, está triste. “No fim do ano vou ter que deixar o projeto. Não gosto nem de pensar. Meus pais se separaram e eu vou ter que ir embora para Santa Catarina”, lamenta. Além de vôlei, Bianca Ferreira, 14 anos, joga futebol nos fins de semana
e ajuda os professores com as crianças menores. “Quero ser professora de educação física.” Segundo ela, o bom mesmo são as viagens. “Eu me sinto importante quando represento a comunidade em outra cidade”, diz ela, que esteve em Curitiba nos dias 16, 17 e 18, participando da etapa final do VI Internúcleo Rexona 2003. O evento reuniu 540 crianças. Duas equipes da categoria B de Heliópolis ficaram em segundo e terceiro lugares. E até quem perdeu diz que saiu ganhando. “Eu perdi, mas foi maravilhoso. Conheci outras pessoas, fiz amigos e também não é todo
dia que a gente tem a chance de conhecer outros lugares”, avaliou Camila Cristina, que visitou os pontos turísticos de Curitiba. Ana Moser acompanhou os jogos de perto e no geral gostou dos resultados.
“As crianças aprendem que existem vitórias e derrotas tanto em competição como na vida. O meu maior interesse hoje é formar
pessoas conscientes, responsáveis e donas de seus destinos, e
não apenas descobrir possíveis talentos do vôlei.”


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