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No dia 14 de julho, o ministro Gilberto Carvalho, da secretaria-geral da Presidência, recebeu uma visita inusitada. Em vez dos compromissos tradicionais com políticos, Carvalho abriu espaço na agenda para uma conversa com o professor de relações públicas Backer Ribeiro. Não foi um encontro qualquer. Ribeiro trazia uma lista de três mil pedidos de brasileiros endereçados à presidente Dilma Rousseff. Mais incomum ainda: os recados foram recolhidos pelo professor ao longo de 1.040 quilômetros de estradas percorridas a pé e que duraram extenuantes 40 dias. No trajeto – ele saiu de São Paulo e foi até Brasília, passando por 27 municípios – foram entrevistados milhares de cidadãos ansiosos por enviar sua mensagem à presidente. O projeto, batizado de Carta de um Brasileiro, surgiu por acaso. Em uma conversa de bar com amigos, Ribeiro perguntou aos convivas o que pediriam se tivessem a oportunidade de mandar um recado para Dilma. A ideia foi levada para a internet. Diante da boa receptividade, ele decidiu colocar em prática o que de início parecia uma loucura. Agora espera pelo menos que a presidente tome conhecimento dos anseios dos cidadãos.

Ribeiro conseguiu a proeza de captar o que se pode chamar de Brasil verdadeiro. Ele conversou com todo tipo de gente. Uma prostituta de Luziânia, em Goiás, viúva e mãe de três filhos, o emocionou. “Ela queria um emprego que pagasse pelo menos um salário mínimo”, diz o professor. A paulista Rayssa Lira pediu cursos de idiomas para a população de baixa renda. O morador de Sobradinho (DF) Jean Luc Lombart quer a instituição da prisão perpétua. De Uberlândia, Lucas Henrique Ferreira solicita a criação de leis que defendam os direitos dos homossexuais. Na mesma cidade, Hanny Angele implora para que a presidente ajude as brasileiras a ser mais valorizadas. “Quero pedir à nossa presidente que seja revisto todo direito da mulher no Brasil”, escreveu Hanny. Segundo o professor, os depoimentos das mulheres são os mais solidários. “Sempre pensando na família e na comunidade, elas em geral pediam mais cuidado com a saúde e a educação.” Para compor um painel mais completo da nação, ele também recolheu cartas enviadas por pessoas de Estados por onde não caminhou. Do município de Rodeio, em Santa Catarina, um recado curioso. Anna Baranski quer que o médico Hosmany Ramos seja liberto da cadeia.

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Ribeiro caminhou em média 30 quilômetros por dia e a jornada começava sempre por volta das 6h30 da manhã. No trajeto, era acompanhado por um carro de apoio. Durante muito tempo, o professor chegou a duvidar que os pedidos seriam repassados à presidente, mas o encontro com Gilberto Carvalho deu a ele a esperança de que as mensagens sejam lidas por Dilma. “Os documentos foram encaminhados ao gabinete pessoal da presidente, mas ainda não há posição sobre o possível encontro dela com o professor Backer”, disse à ISTOÉ o assessor de comunicação da Secretaria-Geral da Presidência, Sérgio Alli. Ribeiro quer levar pessoalmente seu próprio pedido. “Meu recado é que a presidente deixe a questão econômica para o mercado”, diz o professor. “O Brasil não precisa ser a décima economia mundial, mas sim a décima nação em desenvolvimento humano.”

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