Para quem não se lembra, mogwais eram aqueles bichinhos adoráveis do filme Gremlins, de Joe Dante, que corriam o risco de se transformar em ferozes monstrinhos quando molhados ou alimentados à noite. Nem tão adoráveis assim, mas longe de serem criaturas catastróficas, os escoceses do grupo Mogwai acabaram copiando o nome dos personagens para batizar sua banda de rock. Sempre ligados em cinema, eles ainda pensaram em chamar de Exorcist III seu terceiro trabalho, o ótimo Rock action, recém-lançado no Brasil com a coletânea de singles Ten rapid. Mas preferiram um nome de ligação mais direta com seu som, que, na verdade, poderia ser qualificado como trilha sonora
de filmes imaginários.

Avesso ao formato pop, o quinteto formado em Glasgow, em 1995, trocou as melodias assobiáveis, as letras simples e os refrões fáceis de memorizar por músicas hipnóticas, sempre longas e caudalosas. Cheias de climas e texturas, a maioria das faixas instrumentais recorre a cordas, a discretas programações eletrônicas e a uma parede sonora de quatro guitarras. É o que os ingleses e americanos chamam de post-rock – para diferenciar da modalidade mais enérgica de rock’n’roll –, mesma linha do grupo islandês Sigur Rós e do inglês Spiritualized, que, se tivessem surgido na década de 70, seriam facilmente classificados de progressivos.

Mas o Mogwai, cuja influência confessa é a melancolia soturna da banda pós-punk Joy Division, está longe daquela chatice que desembocou em grupos de gosto duvidoso, como The Alan Parsons Project. Basta ouvir as canções Take me somewhere nice – com suas melodiosas guitarras fundindo-se a violinos e ruídos diversos – e 2 rights make 1 wrong, em que o dedilhar de um banjo se casa de forma límpida com timbres eletrônicos repetitivos e vozes distorcidas. A exemplo da islandesa Björk, Mogwai criou um universo musical feito de sonoridades pertencentes
a um mundo onírico.