29/10/2003 - 10:00
O presente, na 37ª edição do
Tóquio Motor Show, uma das maiores feiras de automóveis do mundo, com encerramento marcado para o próximo dia 5, é lindo, sofisticado, milionário e reluz como pérola. Mas o futuro está vencendo com folga. Os gigantes do mercado automobilístico bem que capricharam nos modelos de série. Aqui estão, entre dezenas de outros exemplares, os “seres humanos” Ferrari Enzo e 575M Maranello, o arrojado BMW 645 Ci e o belíssimo Audi A8, maravilha alemã que, com sua incrível variedade de recursos, encanta consumidores de todo o mundo, inclusive do Brasil. Mas o que seduziu nos primeiros dias
da feira foi a alta carga de tecnologia e as propostas ousadas incluídas pelos japoneses em seus inéditos carros conceito, os chamados protótipos. A maioria desses carros não gera sucessores fiéis ao original, mas contribui de forma decisiva para melhorar a segurança, o conforto,
o desempenho e o consumo dos carros particulares que, num futuro próximo, estarão nas ruas.
As feiras de Frankfurt (Alemanha), Paris (França), Genebra (Suíça) e Detroit (Estados Unidos) são marcadas pelas novidades prontas para
o mercado. A de Tóquio é o tempo do carro conceito. Neste ano, 87 carros estão se livrando dos panos pela primeira vez nesta exposição,
a maior parte deles, protótipos. É um recorde, construído graças à ousadia das “Big Three” japonesas – Toyota, Nissan e Honda –, que guardaram munição para gastar em casa e sobraram na turma. O
mais festejado deles foi o PM (de personal mobility, ou mobilidade pessoal). Movido a eletricidade, esse exótico carrinho para uma pessoa, da Toyota, traz uma cápsula que praticamente abraça o condutor. Uma finíssima tela transparente de cristal líquido, colocada no alto, à frente
do rosto do piloto, passa informações sobre o exterior e o funcionamento de sistemas como os de ar-condicionado e som. Na cidade, é possível projetar a cápsula para a frente e, assim, melhorar a visão panorâmica. Na estrada, o melhor é deitar a cabine para ganhar aerodinâmica.
A direção é controlada com dois joy sticks. A velocidade máxima
atingida não foi divulgada.
A Toyota emplacou outro campeão de popularidade, o conversível CS&S. O designer italiano Roberto Falasca recebeu da fábrica a empreitada de criar, sobre a plataforma do Prius, o recente lançamento que estaciona sozinho, um carro contemporâneo que recuperasse o glamour dos modelos barquetta que conquistaram estradas e corações nos anos 40 e 50. O resultado é um modelo marcado por linhas suaves e futuristas, sem vidros e com um interior aconchegante. O acabamento recebeu cores alegres. E a tecnologia embarcada não anulou o toque de nostalgia exigido. Com motor 1.6, atinge velocidade máxima de 210 km/h. “Acredito que a fábrica colocará algo próximo disso no mercado daqui a alguns anos”, disse a ISTOÉ um confiante Falasca.
Os concorrentes responderam com chumbo grosso. A Nissan, presidida pelo brasileiro Carlos Ghosn, apresentou quatro protótipos, todos bem recebidos. O mais badalado é o também conversível Jikoo. Tem curvas insinuantes, bancos com linhas sóbrias e um bonito volante com o arco superior lembrando madeira e madrepérola, referência nostálgica à época de ouro desses carros abertos.
A Honda também não fez feio e levou oito novidades à passarela. São cinco lançamentos de série e três protótipos, entre eles o Imas, um esportivo curto, de dois ou três lugares, que, por sua excepcional aerodinâmica, será nos próximos anos o brinquedo de testes preferido dos técnicos do setor na montadora. Feito de alumínio e fibra de carbono superleve, pesa apenas 700 quilos. O volante é semelhante ao de um Fórmula 1 e parte do corpo de fibra cobre quase totalmente as rodas traseiras, diminuindo ainda mais a resistência ao vento.
Na guerra dos protótipos, a única montadora oversea a brilhar foi a Mercedes Benz, com o F 500 Mind, batizado sem modéstia por seus criadores como “um laboratório de pesquisas sobre rodas”. A parafernália de equipamentos inclui 15 sistemas inéditos, entre eles um que faz as portas abrirem para os dois lados e outro que melhora a visão noturna.
A propulsão é feita pela combinação de um motor V8 de 250 cavalos movido a diesel com um elétrico, de 50 kW. Cada um assume o seu
papel automaticamente. Força na estrada é tarefa para o V8; manobras
e engarrafamento são trabalhos para a bateria. Tudo em nome da economia de combustível e, sobretudo, da diminuição de emissão de poluentes. O carro da Mercedes foi uma das únicas cartadas das montadoras européias e americanas, que preferiram explorar os lançamentos feitos nas últimas feiras. Os japoneses “brincando” de antecipar o futuro, bem ao seu estilo, aproveitaram a oportunidade
e se tornaram os senhores da festa que montaram em casa.
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