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VALOR
Se fosse a leilão, o manuscrito poderia alcançar
100 milhões de euros (cerca de R$ 220 milhões)

Por várias décadas, o cofre forte da Catedral de Santiago de Compostela, na Espanha, guardou uma relíquia de valor incalculável. Ali, fechado a sete chaves, estava o “Códice Calixtino”, manuscrito de meados do século XII cujo trecho mais conhecido dá orientações aos peregrinos que visitam o lugar anualmente, descreve as obras de arte do percurso e os costumes da população local. Ricamente ilustrada, com figuras medievais coloridas destacadas com tinta de ouro, a publicação, uma das mais antigas do catolicismo, era exposta à visitação pública apenas em ocasiões muito especiais. Na terça-feira 5, ao abrir o cofre forte para levá-la a uma dessas exposições, os responsáveis pela catedral descobriram que o “Códice” havia sumido. Desde então, as polícias da Europa e de outros países estão à procura do livro e de quem o afanou. “Se fosse a leilão, o ‘Códice’ poderia alcançar 100 milhões de euros (cerca de R$ 220 milhões)”, estimou à ISTOÉ o especialista espanhol Manuel Moleiro. Pelo valor histórico, artístico e patrimonial, o sumiço do livro está sendo tratado como o “Roubo do Século”.

O “Códice Calixtino” é um livro de 295 cm x 214 cm e tem 225 folhas, impressas dos dois lados. Tem este nome porque foi feito a mando do papa Calixto II, entre 1130 e 1160. “É uma perda de grande peso histórico”, lamenta o padre espanhol Jesus Hortal, ex-reitor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro. “A grande preocupação é que os ladrões rasguem as folhas para vendê-las em separado, danificando para sempre a obra.” Para piorar, o código não estava segurado, pois, de tão caro, o seguro torna-se inviável. Nenhum sinal de arrombamento foi notado pela polícia.

O roubo de obras sacras valiosas é frequente no mundo, inclusive no Brasil. Aqui, os alvos principais são as estátuas barrocas de Aleijadinho. “A segurança dessas obras tem um custo tão alto que a Igreja não pode cobrir”, diz o padre Hortal. “Se há um consenso de que são patrimônios da humanidade, o poder público deveria ajudar nessa tarefa.” Num gesto desesperado, o arcebispo de Compostela apelou aos ladrões, na quarta-feira 13, para recuperar a maior relíquia da Espanha. “Devolvam o livro ao lugar de onde nunca deveria ter saído”, clamou. Especialistas e policiais duvidam que o apelo dê resultado. Agora, além de acompanhar as investigações, resta aos espanhóis rezar – e muito.  

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