Há algo de novo no ar. Uma luta entre o Brasil novo e o Brasil velho. O novo clama por competição. O velho quer nos empurrar monopólios goela abaixo. Nesta semana, três grandes negócios sofreram algum tipo de bloqueio ou restrição. O mais importante deles, a fusão entre o Pão de Açúcar e o Carrefour, foi engavetado de vez depois que o BNDES, pressionado pela sociedade, retirou seu apoio de R$ 4 bilhões à operação. A fusão entre a Sadia e a Perdigão foi aprovada, mas com fortes restrições. E a compra da WebJet pela Gol também já sofre limitações prévias do Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o Cade. A marca WebJet, por exemplo, terá que ser mantida, pois o Brasil tem hoje um duopólio na aviação civil e as passagens aéreas aqui estão entre as mais caras do mundo.

É bom que essa reação esteja acontecendo. E talvez seja o início da reversão de um processo iniciado ainda no governo FHC, quando a operação que deu origem à Ambev – a fusão entre Brahma e Antarctica – fez brotar o discurso nacionalista e maroto das multinacionais verde-amarelas. FHC deu o pontapé inicial e Lula levou esse discurso ao paroxismo. Com dinheiro público, do BNDES, que é capitalizado pelo Tesouro Nacional e, portanto, por todos os contribuintes, o governo federal incentivou a formação de grandes oligopólios. Na prática, enfiou a mão no bolso de muitos em benefício de poucos. E assim nasceram os “campeões nacionais” em vários setores da economia: dos frigoríficos à telefonia, passando por setores como papel e celulose e alimentos.

O grande arquiteto desse movimento tem sido o atual presidente do BNDES, Luciano Coutinho. E ele conseguiu uma medalha, para guardar no currículo, jamais imaginada por nenhum antecessor. No auge das negociações para a formação do “Carreçúcar”, o BNDES foi alvo de um “twitaço” – um movimento em massa dos internautas – que colocou a expressão #maracutaiabndes como a mais comentada na rede mundial de computadores. O povo, alto e bom som, disse não à operação.

O que o governo talvez ainda não esteja enxergando é o estrago – no bom sentido – causado pela democratização da comunicação. Hoje, todos se expressam livremente. E é muito mais difícil embalar num discurso nacionalista operações tramadas na calada da noite. O povo que organiza manifestações por liberdade nas praças do mundo árabe é o mesmo que, na Espanha e em outros países europeus, se mobiliza por oportunidades de trabalho através da internet. A rede hoje é um grande espaço livre de manifestação política e de democracia direta. E a mensagem que ela transmite é clara: menos monopólios, sejam eles políticos ou econômicos, e mais competição.