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VISÃO
Dilma consulta sua equipe de confiança com
frequência, atrás de informações técnicas e de bastidores

Em meio à crise no setor de Transportes, um personagem emergiu no noticiário político: Hideraldo Caron, diretor de Infraestrutura Rodoviária do Dnit, os olhos da presidente Dilma Rousseff no órgão. Filiado ao PT do Rio Grande do Sul, Caron foi quem manteve Dilma informada sobre o andamento das obras na pasta desde o início do ano. A atuação de Caron encontra paralelo em outros órgãos do governo. Preocupada, sobretudo, com a gestão da máquina administrativa, e em acabar com eventuais irregularidades e gargalos da administração pública, Dilma mantém nos ministérios e estatais outras pessoas de sua estrita confiança, designadas para atuar como uma espécie de olheiros do Planalto. São pelo menos seis servidores mais próximos da presidente que, quando solicitados, fazem relatos para ela sobre o andamento dos principais programas das pastas em que atuam. "São os fiéis escudeiros de Dilma no governo. Pessoas com as quais ela gosta de estabelecer uma interlocução frequente", conta um auxiliar da presidente.

Para não dizer que pairam desconfianças sobre os titulares dos ministérios e afastar a tese de que os ministros estão sendo monitorados, no Palácio do Planalto a justificativa é de que é tudo uma questão de afinidade. Quando surgem dúvidas, Dilma recorre a eles. Na maioria das vezes, quem faz o meio campo entre Dilma e esses funcionários de alto escalão é a ministra do Planejamento, Miriam Belchior. Como ocorreu no dia 17 de junho, quando Miriam e a secretária Nacional de Habitação, Inês Magalhães, conversaram pelo menos uma hora sobre projetos tocados pelo ministro das Cidades, Mário Negromonte. Miriam queria saber sobre as liberações de dinheiro para obras do PAC, que hoje ocorrem num ritmo mais lento do que o desejado pela presidente Dilma. A conversa aconteceu antes da gravação do programa "Bom Dia, Ministro", produzida pela Secretaria de Imprensa da Presidência da República. Parceira de carteado de Miriam, Inês Magalhães está na secretaria desde 2003 e goza da total confiança de Dilma. Por pouco não foi promovida a ministra das Cidades no início do governo. Mas a presidente teve de se render às pressões do PP, interessado em manter o controle da pasta.

Outro que só não é titular do ministério por causa da necessidade de uma composição política, nesse caso com o PMDB de Edison Lobão, é o secretário-executivo de Minas e Energia, Márcio Zimmermann. Ele é considerado por todos no governo como o homem de Dilma no setor elétrico. Durante o episódio do blecaute que atingiu oito Estados do Nordeste, em fevereiro deste ano, foi Zimmermann que Dilma procurou primeiro pedindo explicações. "Foi ou não pane no sistema de segurança. Foi ou não?", repetia Dilma. A presidente só sossegou quando recebeu as explicações detalhadas do secretário-executivo. Zimmermann havia sido colega de Dilma no governo Olívio Dutra (PT) e, desde então, os dois mantêm uma relação baseada na admiração e confiança mútuas.

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EMISSÁRIA
Muitas vezes é Miriam Belchior a encarregada
de fazer a interlocução entre Dilma e os olheiros

Os ministros políticos ficam enciumados com o tratamento diferenciado conferido muitas vezes aos servidores de perfil mais técnico. A verdade é que muitos dos integrantes do primeiro escalão ainda não conseguiram entender o estilo Dilma de governar. "É um estilo diferente. As pessoas precisam se adaptar", diz o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), integrante da base aliada no Congresso. Dilma costuma dizer que prefere os técnicos aos políticos. "Com eles o diálogo flui melhor. O foco dela é na gestão", atesta um assessor de Dilma. Daí a necessidade de monitorar permanentemente os trabalhos e os programas em diferentes ministérios.

No setor energético, a presidente também nutre uma grande simpatia pelo diretor de Planejamento e Engenharia da Eletronorte, Adhemar Palocci. Irmão do ex-ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, Adhemar é o principal interlocutor de Dilma na estatal desde o governo Lula. Na ocasião, ainda ministra da Casa Civil, ela dividia o controle da Eletronorte com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Durante o leilão da usina de Belo Monte, Dilma falava com Adhemar quase diariamente.

Relatos praticamente diários também eram feitos ao Palácio do Planalto pelo secretário-executivo do Ministério da Educação (MEC), José Henrique Paim Fernandes, entre janeiro e fevereiro deste ano, período em que foram detectadas falhas no planejamento do Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Coube a Paim a tarefa de dar as explicações sobre o caso. Havia suspeitas de que candidatos teriam conseguido fazer alterações na inscrição de outros, mudando instituições ou cursos escolhidos. "Existiu um planejamento que considerou o crescimento do processo, mas de modo insuficiente", justificou o secretário a Dilma. Iniciativa semelhante foi tomada pelo secretário de Futebol do Ministério do Esporte, Alcino Reis Rocha, entre fevereiro e março deste ano, quando um dos principais programas da pasta, o Segundo Tempo, foi alvo de denúncias de fraudes. Rocha está no ministério desde 2003, início do governo do PT. Conhece o ministério como poucos. Por isso, interlocutores de Dilma costumam procurá-lo quando surgem focos de problemas. Prestigiado com a presidente, Rocha é um dos idealizadores do Guia de Recomendações para a Segurança e Conforto em Estádios de Futebol, lançado em junho pelo Ministério do Esporte, e responsável pelo projeto de cadastramento das torcidas organizadas. Como acontece com os demais olheiros, nada passa despercebido por ele. Que se cuidem os que saírem da linha.