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NA PALMA DA MÃO
José Ricardo dos Santos é o responsável pelo reflorestamento no
morro da Babilônia, que sonha virar uma extensão de Copacabana

Acordar com fogueteiros avisando a chegada da polícia. Voltar para casa e ter de passar por um grupo armado de fuzis. Tentar dormir ao som de tiroteios. Quem tem um cotidiano assim está muito mais preocupado com a própria preservação do que com a conservação do planeta. Com a pacificação dos morros cariocas, isso começa a mudar. Em junho deste ano, dois morros que já receberam UPPs começaram a vivenciar um projeto-piloto de urbanização que, além de fazer melhorias estruturais, ensinará a população carente a se preocupar com o consumo de água e energia elétrica e a usar material reciclado, entre outras ações.

“A ideia é incentivar o uso das tecnologias sustentáveis e também monitorar”, diz um dos idealizadores do projeto, o economista Sergio Besserman Vianna, presidente da Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável e de Governança Metropolitana do Rio de Janiero. As comunidades Babilônia e Chapéu Mangueira, no Leme, na zona sul carioca, foram as escolhidas para receber o programa por serem favelas pacificadas. “Os moradores estão engajados”, conta Carlos Antonio Pereira, 43 anos, vice-presidente da Associação de Moradores do Morro da Babilônia. Eles se organizam e veem surgir na comunidade pessoas como Jorge Ricardo dos Santos, encarregado do reflorestamento na Babilônia.

A urbanização das duas comunidades custará cerca de R$ 43 milhões e deve ficar pronta em dois anos. A partir de agora, tudo o que for demolido será triturado e reaproveitado em novas construções. Além disso, as três novas unidades habitacionais que serão erguidas para realocar moradores atualmente em áreas de risco serão feitas com estruturas metálicas recicladas e tijolo ecológico. Os prédios ainda terão sistema de reaproveitamento de água de chuva, iluminação de LED, captação de energia solar e medidor individual de água. Encostas expostas, quando possível, receberão revestimento vegetal, e uma horta comunitária para abas­tecer o comércio local também será criada. “Babilônia e Chapéu Mangueira terão um tratamento que nem as áreas mais ricas da cidade receberam ainda”, diz o secretário da Habitação, Jorge Bittar.

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VERDE POR CIMA
Para melhorar a temperatura no interior e o visual no exterior, a
escola da comunidade Chapéu Mangueira ganhou um telhado vivo

Os limites das duas favelas também serão retraçados. As casas construídas em áreas de proteção ambiental serão derrubadas, e a região será reflorestada. “A prioridade é poder tirar a população da área de risco. Se isso também ajudar a proteger o ambiente, melhor”, diz o comerciante Sérgio Barbosa, 42 anos. Nascido e criado no Morro da Babilônia, ele é dono de uma lanchonete que será demolida com a implantação do projeto.

O descarte de lixo, que hoje depende da boa vontade do morador em ir até a caçamba mais próxima, será facilitado pela construção de uma via de serviço por onde passarão veículos coletores. Os acessos à comunidade pelo Leme também serão revitalizados, bem como o sistema de drenagem e de saneamento da região, obra que ajudará ainda a promover a integração entre os moradores das duas comunidades e fazer delas uma espécie de continuação da praia de Copacabana. De preferência, com um charme cada vez mais parecido com o do bairro famoso. 

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