Um grande acerto de paz parece ter sido concebido no âmbito do Ministério dos Trans portes. O homem-bomba demitido do Dnit, Luiz Antônio Pagot, prometia arrastar consigo novas vítimas – entre elas o atual ministro das Comunicações, Paulo Bernardo – a partir de denúncias da participação dele no esquema de superfaturamento das obras contratadas. Ameaçava inclusive o escolhido para sucessor de Alfredo Nascimento na pasta dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, alegando que as decisões naquele ambiente ministerial eram tomadas em colegiado e que Passos, enquanto secretário-executivo, também participava delas. No seu depoimento no Senado, na terça-feira 12, surpreendentemente, Pagot resolveu poupar os alvos. Num discurso modorrento, repleto de explicações sobre o organograma do Dnit e outras irrelevâncias, ele esforçou-se para passar a imagem de um comportado e pacato servidor. Foi elogiado por aliados. Até anistiado de culpa por alguns. Eximido de desvios de conduta. Os companheiros de legenda o trataram como um injustiçado. Não faltou solidariedade entre os atentos espectadores parlamentares – muitos dos quais receosos do efeito desastroso que as inconfi dências de Pagot poderiam provocar sobre o governo. Até mesmo o novo ministro empossado, Paulo Passos, tratou de contemporizar, chamando- o de “profissional responsável”. O clima estava tão favorável que Pagot se arriscou até a levantar a hipótese de que voltaria ao cargo. Alternativa logo descartada diretamente pela presidente Dilma, que, no dia seguinte, avisou pessoalmente a base aliada que Pagot está fora do Dnit de vez. Na pista das alegações apontadas por Pagot antes de ir ao Senado, a reportagem de ISTOÉ conseguiu levantar situações no mínimo suspeitas envolvendo o atual titular dos Transportes, Paulo Sérgio Passos. Na matéria que começa à página 38 desta edição, a revista mostra que, entre abril e setembro de 2010 – quando Passos assumiu interinamente a pasta –, ele liberou diretamente R$ 78 milhões para três obras que o Tribunal de Contas listava como portadoras de “graves irregularidades”. Entre elas, superfaturamento e pagamentos por serviços não executados. Nos meses seguintes, cinco empreiteiras que se benefi ciaram com a liberação dos recursos doaram mais de R$ 5 milhões para o PR e para candidatos do partido. Um hábito que o PR parece ter impregnado dentro do Ministério dos Transportes.